Em
edição recente, o Jornal Agora, mais uma vez demonstrando sintonia
com as aflições coletivas do povo do Rio Grande, publicou extensa
matéria sobre a questão do lixo em nosso município.
A
reportagem descreve os problemas diários ocasionados aos moradores
da cidade pela coleta irregular, seja qual for o local da moradia.
Traz também um histórico bastante esclarecedor sobre a situação
jurídica da empresa privada responsável pelo recolhimento dos
dejetos domésticos dos rio-grandinos. Lembra as acusações que
pesam sobre ela, a anulação do contrato por irregularidades e
corrupção, a apelação e a liminar que continuam garantindo sua
permanência à revelia de uma primeira decisão da justiça e das
intenções da atual administração municipal.
Nesse
ponto, impõe-se uma reflexão sobre a pertinência da luta contra a
terceirização dos serviços públicos e o grande erro da crença
ilimitada na excelência “do particular” administrando “o
público”. O caso da Rio Grande Ambiental apenas identifica, outra
vez, quem se beneficia com o Estado Mínimo.
Porém
vai adiante a jornalista. Apresenta a seus leitores a palavra do novo
Secretário de Serviços Urbanos do Município. “Vou limpar esta
cidade”, disse ele. Falou da importância de um Plano de Limpeza
Urbana e fez justiça aos funcionários públicos por ele dirigidos.
Alertou para o problema de saúde pública, indissociável do tema,
mas muitas vezes oculto pela “fealdade” da sujeira exposta e, por
isso, nem sempre lembrado ou devidamente considerado. Ressaltou,
ainda, a manutenção do pagamento em dia por parte da Prefeitura (em
respeito ao contrato vigente) aos serviços prestados pela referida
empresa. Mais que tudo isso, no entanto, cumpriu a obrigação
primordial do homem público nos regimes democráticos: prestou
contas aos cidadãos - do que fez, como fez e porque fez em seus
primeiros dias à frente dos Serviços Urbanos.
Não
são simples, nem pequenos os desafios que aguardam o Sr. Dirceu
Lopes. A limpeza urbana, intimamente ligada à questão ambiental no
mundo contemporâneo, exige a implementação de políticas que
consigam conciliar o crescimento socioeconômico com a preservação
do meio, garantindo a qualidade da vida, direito de todos. E a
abrangência de tais políticas não pode ser reduzida a uma coleta
eficiente, embora seja só isso o que a maioria pede. Tirar o sofá
velho do canteiro não será o mais difícil. Em tempos de exacerbado
individualismo, difícil mesmo será ensinar que não se coloca sofá
velho no canteiro. O lixo nosso de cada dia está exigindo políticas
que atinjam também seu tratamento seletivo e sua destinação, além
de nos fazer refletir sobre a necessidade de mudar os modos
predadores de produção e consumo hoje imperantes em nossa
sociedade.
Por
conta desta realidade, precisará o Secretário prosseguir
incansavelmente usando a voz (como fazem as professoras), expondo
limites e possibilidades, relatando ações, consultando
interessados, pedindo ajuda, gerando vontades... Então, não estará
sozinho e poderá dizer: “Nós – o povo rio-grandino e eu –
estamos limpando esta cidade.”
Maria