sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

A voz do secretário

Em edição recente, o Jornal Agora, mais uma vez demonstrando sintonia com as aflições coletivas do povo do Rio Grande, publicou extensa matéria sobre a questão do lixo em nosso município.
A reportagem descreve os problemas diários ocasionados aos moradores da cidade pela coleta irregular, seja qual for o local da moradia. Traz também um histórico bastante esclarecedor sobre a situação jurídica da empresa privada responsável pelo recolhimento dos dejetos domésticos dos rio-grandinos. Lembra as acusações que pesam sobre ela, a anulação do contrato por irregularidades e corrupção, a apelação e a liminar que continuam garantindo sua permanência à revelia de uma primeira decisão da justiça e das intenções da atual administração municipal.
Nesse ponto, impõe-se uma reflexão sobre a pertinência da luta contra a terceirização dos serviços públicos e o grande erro da crença ilimitada na excelência “do particular” administrando “o público”. O caso da Rio Grande Ambiental apenas identifica, outra vez, quem se beneficia com o Estado Mínimo.
Porém vai adiante a jornalista. Apresenta a seus leitores a palavra do novo Secretário de Serviços Urbanos do Município. “Vou limpar esta cidade”, disse ele. Falou da importância de um Plano de Limpeza Urbana e fez justiça aos funcionários públicos por ele dirigidos. Alertou para o problema de saúde pública, indissociável do tema, mas muitas vezes oculto pela “fealdade” da sujeira exposta e, por isso, nem sempre lembrado ou devidamente considerado. Ressaltou, ainda, a manutenção do pagamento em dia por parte da Prefeitura (em respeito ao contrato vigente) aos serviços prestados pela referida empresa. Mais que tudo isso, no entanto, cumpriu a obrigação primordial do homem público nos regimes democráticos: prestou contas aos cidadãos - do que fez, como fez e porque fez em seus primeiros dias à frente dos Serviços Urbanos.
Não são simples, nem pequenos os desafios que aguardam o Sr. Dirceu Lopes. A limpeza urbana, intimamente ligada à questão ambiental no mundo contemporâneo, exige a implementação de políticas que consigam conciliar o crescimento socioeconômico com a preservação do meio, garantindo a qualidade da vida, direito de todos. E a abrangência de tais políticas não pode ser reduzida a uma coleta eficiente, embora seja só isso o que a maioria pede. Tirar o sofá velho do canteiro não será o mais difícil. Em tempos de exacerbado individualismo, difícil mesmo será ensinar que não se coloca sofá velho no canteiro. O lixo nosso de cada dia está exigindo políticas que atinjam também seu tratamento seletivo e sua destinação, além de nos fazer refletir sobre a necessidade de mudar os modos predadores de produção e consumo hoje imperantes em nossa sociedade.
Por conta desta realidade, precisará o Secretário prosseguir incansavelmente usando a voz (como fazem as professoras), expondo limites e possibilidades, relatando ações, consultando interessados, pedindo ajuda, gerando vontades... Então, não estará sozinho e poderá dizer: “Nós – o povo rio-grandino e eu – estamos limpando esta cidade.”

Maria