terça-feira, 19 de junho de 2018

A EVOLUÇÃO POLÍTICO - TEÓRICA DE MARX

Um estudo da evolução político - teórica de Marx, metodologicamente marxista, exige, antes de tudo, sua contextualização segundo os princípios  do materialismo dialético inaugurado por ele e por Engels. E o reconhecimento de que esta análise contextual não é um complemento. É condição indispensável para que se compreenda o conteúdo e o significado do seu pensamento e de sua ação política.
Para empreendê-lo, o primeiro passo deve ser, portanto, a inserção da obra marxiana na totalidade histórica em que surgiu e se desenvolveu, identificando e examinando, além disso, os cenários específicos que a condicionaram e por ela foram condicionados.
Teremos então, a EVOLUÇÃO POLÍTICO - TEÓRICA DE MARX na SOCIEDADE CAPITALISTA DO SÉCULO XIX, nela destacados A LUTA POLÍTICA DO PROLETARIADO (onde ele e Engels militaram) e O PENSAMENTO NEO - HEGELIANISMO DE ESQUERDA (origem filosófica dos dois).
A utilização do conceito de condicionamento permite a apreensão dos limites e das possibilidades dessa evolução sob circunstâncias determinadas. Todavia, igualmente deve ser lembrado o conceito de autonomia parcial e variável das idéias. Só assim é possível superar a polêmica "idealistas X materialistas tradicionais", ou seja, "idéias livres de qualquer imposição político - econômica X idéias escravas do entorno social". Aliás, é justamente esta dupla consideração que traz à tona o caráter dialético da relação entre realidade social e pensamento organizado. Porque prova a reciprocidade entre eles, fazendo caducar as noções de causa e efeito.
Se é fato que a realidade constituída oferece as condições necessárias para que brote um pensamento estruturado, também é fato que tal pensar pode "selecionar e interpretar" os elementos dessa realidade que deseja como guias para sua trajetória. Exemplo claro é a revolta dos tecelões silesianos (em junho de 1844) ,que foi completamente ignorada pela "inteligência" neo - hegeliana e, consequentemente, não acarretou nenhuma mudança em suas posições teóricas. Em compensação, influenciou decisivamente as concepções de Marx que a analisou, escreveu sobre ela, defendeu, aprendeu, ressignificou... e foi expulso da França pela censura prussiana.
Desse modo, é possível concluir não ser um acontecimento histórico ou uma doutrina filosófica "em si" que determinam sozinhos o desenvolvimento de uma reflexão. Há que acrescentar ao conjunto das condições objetivas a primazia interpretativa que se dá a algumas delas. Por outro lado, a atenção dada por Marx à greve na Silésia inegavelmente foi influenciada por sua então recente participação em organizações operárias parisienses. Foi nesse contato que descobriu o potencial revolucionário do proletariado, sua capacidade de ação autônoma, o passo adiante... A ação política levando à investigação teórica.
Entretanto, torna-se ainda necessário levar em conta a bagagem intelectual marxiana quando aproximou-se do movimento operário.Pistas podem ser encontradas já em 1843, quando ele redigiu a "Introdução à Crítica do Direito de Hegel" (publicada no início de 1844, no único número dos "Anais Franco - Alemães"). Nela afirmava que "o poder material só pode ser vencido pelo poder material" e "a teoria também se transforma em força material quando apropriada pelas massas".
Mais adiante, nas "Teses sobre Feuerbach" (escritas em 1845, publicadas por Engels em 1888), outra pista: "Os filósofos não fizeram mais do que interpretar o mundo, mas do que se trata é transformá-lo" (TESE 11).
Essa compreensão foi a revolução primeira que abriu caminho para a revolução político-teórica que empreenderia ao longo da vida, formulando uma crítica radical para desnudar o real, sempre encoberto pela manipulação dos dominadores. E que tinha por objetivo contribuir para a construção de uma sociedade justa, onde a contradição opressor/oprimido, insolúvel no modo de produção capitalista, pudesse ser superada. UMA TEORIA DA PRÁTICA, UMA PROPOSTA DE LIBERTAÇÃO.

MARIA