sábado, 14 de novembro de 2020

O COMPROMISSO QUE IMPORTA




"... ...
Em vão percorremos volumes,
viajamos e nos colorimos.
A hora pressentida
esmigalha-se no chão da rua
... ...
Porque as leis não bastam,
os lírios não nascem da lei.
Meu nome é tumulto.
E escreve-se na pedra."
                 Carlos Drummond de Andrade



Há quem diga que não será com votos que a humanidade vai se libertar do capitalismo. Talvez com razão. Entretanto, nesta hora partida que nos coube viver, é o voto o instrumento que temos para resistir ao capital. As "condições objetivas" para que uma Revolução Social possa acontecer, hoje, não estão postas. Votemos, pois. Mas atenção nesse votar.
Que nossos votos não se esmigalhem no chão da rua, como as horas pressentidas do Drummond. Que eles sejam sementes de mandatos capazes de representar a luta anticapitalista. Tratando por este ângulo cada questão local. E indo além... De peito aberto, com coerência entre discurso e prática.
Mandatos que sejam contraponto à ordem estabelecida há 500 anos nestas terras - a ordem dos pés calçados pisando nos pés descalços.
Mandatos andarilhos que não se restrinjam à política dos gabinetes. Também deixem rastros nas calçadas.
Mandatos que levem para o espaço institucional o tumulto dos que têm fome. De pão e de justiça.
Mandatos que honrem a vida, honrando a luta. Porque este é o compromisso que importa. E precisa ficar registrado. Nas pedras e nas urnas.
Ao voto, então!
                                                                                                                             MARIA
 

terça-feira, 8 de setembro de 2020

SETEMBRO

É Setembro.
E tem vento,
e tem frio,
e tem sol,
porque é Setembro.
E tem a cor de Setembro,
que não é verde,
nem amarelo.
É a cor das rosas,
vermelhas, brancas 
ou cor-de-rosa.
Que se espalham por aí,
multicolorindo o mundo.
E tem o cantar dos passarinhos em Setembro.
Mais alto e mais inquieto
do que em outro mês qualquer...
E tem os corações pulsando dentro.
Porque pulsam.
Querendo que seja melhor,
acreditando que pode ser...
E tem a Beatriz,
que é de Setembro.

E TEM LULA...
Trazendo a palavra,
Carregando raízes,
Afirmando que não,
Ensinando a fazer,
Desenhando o caminho,
Entrando na roda,
Gerando esperança,  
Grande e Livre!

E tem as azaleias...
Que ficaram.

MARIA











sexta-feira, 26 de junho de 2020

POR QUE MENTE O DEPUTADO?






O  vírus avança assustadoramente. Pelos discursos, todos parecem combatê-lo. Mas, como disse alguém, se estamos na mesma tempestade, não estamos no mesmo barco - milhões a enfrentam em botes enquanto meia dúzia a navega em transatlânticos.
A medicina, as estatísticas, a inteligência, o bom senso, nos dizem que há duas formas de combater a COVID-19 e que as chances de derrotá-la crescem quando as duas se entrelaçam.
O bom atendimento médico, quando as pessoas já estão adoecidas,
é uma delas. A outra é o distanciamento social, que previne o adoecimento. Sem a segunda, muito pouco pode a primeira. Porque na falta de prevenção, acentua-se significativamente a sobrecarga do sistema de saúde, que precisa responder com leitos, insumos e profissionais em quantidade cada vez maior. Portanto, a defesa desse  distanciamento é a tarefa primeira de todas e todos que se afirmam representantes dos que estão nos botes.  Quem tem à disposição um microfone ou uma tribuna, tem hoje obrigação de esclarecer a opinião pública. 
Vivendo o país há 4 anos sob os efeitos de um Golpe de Estado que serviu para tirar da classe trabalhadora as garantias constitucionais que tinha, entregar de bandeja ao grande capital as riquezas nacionais e destruir os sistemas públicos de educação e saúde, o que se vê é o  "descaso" criminoso das autoridades federais tanto com uma quanto com a outra forma de combate ao vírus - verbas aprovadas pelo Congresso Nacional para o combate à pandemia continuam retidas na sacola de Paulo Guedes, falas de estímulo à aglomerações humanas são repetidas cotidianamente pelo sujeito - monstro que ocupa o Palácio do Planalto.
No Rio Grande do Sul, o governo PSDB/PTB, apoiador do golpe de Estado e do projeto ultraliberal que governa o Brasil, adota critérios estranhos na distribuição das verbas que devem subsidiar os municípios no combate á doença. É exemplo dessa estranheza a região sul do Estado. Enquanto Pelotas recebe 13 milhões de reais, Rio Grande recebe 900 mil. Será que seus aliados podem explicar aos trabalhadores rio-grandinos o motivo de tão gritante diferença?
Talvez o deputado estadual do MDB, representante da região na Assembléia Legislativa, cabo eleitoral de Bolsonaro em 2018, membro da base aliada de Eduardo Leite, saiba a resposta.
Talvez por sabê-la é que fique "pedindo" à Secretaria de Saúde do Estado o que não precisa ser "pedido" - o simples e óbvio cumprimento de um dever constitucional.
No dia 6 de maio, o referido deputado "garganteou" em suas redes sociais que tinha "conseguido" 10 leitos de UTI para Rio Grande. No dia 21 do mesmo mês, repetiu o discurso. Passados  50 dias da primeira declaração e com mais 163 casos e 2 óbitos confirmados na cidade, até agora não chegaram os tais leitos, responsabilidade do governo estadual e não "favor" prestado ao povo por um deputado.
Diz este senhor ter imensa preocupação com os trabalhadores rio-grandinos. Mas mente, o deputado. Sua preocupação é com a elite econômica ,  unicamente. Se assim não fosse, estaria "pedindo" a seu povo que ficasse em casa. Estaria , na tribuna do Legislativo  Estadual, exigindo publicamente que o governador cumprisse sua obrigação. Estaria, ainda, sugerindo aos vereadores do seu Partido e dos Partidos a ele aliados que não atrapalhassem, com emendas demagógicas e inconstitucionais, a contratação de profissionais de saúde para a cidade que representa. Em um momento histórico tão difícil como o que vivemos.
Precisa saber, ainda, o Sr. Deputado, e todos os seus aliados no Parlamento Rio-grandino, que o povo não é bobo. E VAI MOSTRAR.

                                                        MARIA

terça-feira, 23 de junho de 2020

IDENTIDADE

                                        


                                           

"Se não sabeis quem sou,
  Se vos desconcertam os amores que cultivo,
  Sabeis,
  Da vila venho,
  O povo sou..."
                   Pedro Casaldáliga
             


                                                   
Não é hora de calar.
O dizer hoje, talvez mais do que nunca, deva estar junto do fazer na luta pela sobrevivência. A luta pela permanência. Do que já está tão pequeno... Nos desafios colocados pelo tempo, a palavra pode ser instrumento poderoso. Por isso não se pode perder o momento de dizê - la.
Afirmam alguns, por exemplo, que falar de eleições  em meio à pandemia é oportunismo ou falta de sensibilidade. Ou ambos. No entanto, falar de outras coisas também pode ser. Porque 2020, este ano de catástrofe na saúde e na política, é também  ano eleitoral no país.          
Nos municípios brasileiros, a sociedade estará escolhendo aquelas e aqueles que, a partir de 2021, deverão enfrentar politicamente as sequelas sanitárias, sociais e econômicas que resultarão da pandemia e do pandemônio. Que não serão poucas, nem pequenas, podendo, inclusive, gerar novas pandemias e pandemônios. Ignorar esta realidade é omissão inadmissível.
Com o desgoverno ultraliberal e genocida que temos em Brasília, fruto do golpe parlamentar/midiático/jurídico iniciado em 2016, as prefeituras tornaram-se espaços estratégicos e imprescindíveis para minimizar os impactos negativos da COVID-19 no cotidiano das cidades. Algumas o fizeram. Outras nem tanto. Aqui o "RIO GRANDE COMVIDA" continuou valendo, como nos últimos oito anos.
Mas quem estará no Executivo Municipal em 2021? E na Câmara de Vereadores?
Candidaturas estão postas. Programas de governo estão sendo elaborados. Da mesma forma, propostas de mandatos  parlamentares. Resta saber de quem são os interesses que representam. Mais do que seus nomes no registro civil, esta é a identidade que deve ser mostrada aos eleitores.
Que seus cards e panfletos salientem e que seus dizeres e fazeres comprovem, o conjunto das bandeiras que carregam, o mundo e a cidade com que sonham, os caminhos de luta percorridos para chegar até aqui, o valor que dão às decisões coletivas, o partido que tomaram na batalha pela vida... da humanidade, dos outros animais e do planeta.
A escolha será mais consciente.
                                                            MARIA

sexta-feira, 19 de junho de 2020

POR QUE LEMBRAR O JUNHO DE 2013?




                                                 
                                             " A bandeira verdadeira,
                                             estandarte do meu povo,
                                             deve revelar a dor
                                             mal guardada na memória
                                             e expor sem ter pudor
                                             a cor do sangue inocente
                                             derramado injustamente
                                             no percurso da História"
                                                  
                                                           Bandeira/Estandarte,
                                              poema de Carlos Medeiros melodiado                                                 por Gilberto Oliveira



Quando, no calor da hora, as jornadas brasileiras de junho de 2013 foram objeto de reflexões à esquerda do pensamento político, em meio ao espanto e ao encanto - há 20 anos o país não via aquilo -alguns já alertavam que a corrente humana em andamento não tinha ainda uma direção. Que os caminhos estavam abertos e poderiam levar a um ou a outro futuro.Que era preciso prestar atenção. Aquele novo insinuado não revelava contornos definidos e sua cor era difusa. Faltava-lhe traço forte e um colorido mais nítido.
A esquerda, dividida entre os que "estavam na institucionalidade" e os que "estavam no movimento", não soube fazer seu desenho nem dar-lhe a cor necessária. Passada a tempestade imediata, continuou "tocando a vida". As jornadas não foram aproveitadas na luta pela transformação da realidade.
A partir de então, o caminho forjado pelo capital foi ficando cada vez mais largo. Iluminado pela manipulação midiática e judiciária, se ofereceu às mais diversas camadas da sociedade como o único não só possível como desejável. E as multidões foram ficando cada vez mais caricatas, mais brancas e amarelinhas. Nos trouxeram a 2020.     
Por isso a importância de lembrar 2013. Por sua atualidade.
Para que não seja exemplo, seja lição.
Para que cada voto hoje buscado, seja para a direção do Movimento ou para a ocupação de espaços institucionais, traga consigo a consciência da beira do abismo e o compromisso com a luta para impedir a queda. Luta esta que será de classes ou não será  luta alguma.


SUGESTÃO DE LEITURA: "As Lutas de Classe na França", texto redigido por MARX em 1850 e, por sua lucidez, ainda fundamental para a compreensão da realidade social.


                                                                  MARIA


domingo, 14 de junho de 2020

COMO ASSIM, SR. VEREADOR?

2020, o ano que há de acabar, tem sido guiado pelas curvas. No mundo, os povos acompanham ansiosos as subidas e descidas da curva da morte. Desenhada pelo COVID-19 e por suas consequências sociais e econômicas.
No Brasil, não bastasse a curva pandêmica que aqui, até agora, sobe assustadoramente, o povo trabalhador sofre com a curva do golpe iniciado em 2016 e que, até agora, também não para de subir.
Todos aqueles que, nesses quatro anos, têm se empenhado na destruição dos direitos trabalhistas, sociais e humanos conquistados pelos Movimentos com muita luta e colocados em prática com políticas públicas nos governos Lula e Dilma, continuam firmes em seu propósito de inviabilizar governanças municipais que se contrapõem à destruição do Estado Social e defendem mais a vida do que o lucro. Mascaram-se eles, cínica e demagogicamente, de tribunos dos pobres. Aproveitam-se da fragilidade popular frente ao caos provocado no país por um vírus e um verme, ambos letais, para manipular a opinião pública em prol de interesses privados. O seu próprio, na maioria das vezes. Na cidade do Rio Grande temos hoje um bom exemplo disso.
Na semana que finda, o povo rio-grandino ficou sabendo que um vereador, do MDB, chamado Julio Cesar Pereira da Silva, está apresentando um projeto de lei que coloca em risco, na prática, a continuidade do combate ao coronavírus no município e talvez até mesmo a continuidade do pagamento em dia das servidoras e servidores municipais.
COMO ASSIM, SR. VEREADOR?   
O Sr. sabe, porque é um advogado,  que seu projeto é inconstitucional - o Poder Legislativo não pode criar despesas para o Poder Executivo.
O Sr. sabe, porque é um político, que a "ajuda emergencial" aos que dela precisam já foi  aprovada pelo Congresso Nacional e é válida para todo o território brasileiro. Só não tem é sido paga adequadamente pelo sujeito - monstro que ocupa o Planalto e que Vossa Excelência ajudou a eleger.
O Sr. sabe também, porque já viu esse filme, que o projeto de mundo defendido pelo seu Partido só tem chance de vitória quando amparado na demagogia golpista, que acompanha nossa história desde os primórdios.
O que o Sr. talvez não saiba, Vereador, é que vai ter luta.
Para que o PL 104 de 2020 não passe, seja por conta da dignidade de seus pares, seja pela pressão popular.
Para que todas e todos na cidade conheçam a direção em que marcha seu mandato, seja por alto-falantes nas esquinas, seja por palavras espalhadas na "nuvem".
Para que nunca mais se reeleja, seja pela denúncia de seus mal-feitos, seja pelo anúncio de candidatas e candidatos realmente comprometidos com as necessidades dos excluídos.

                                                                       MARIA

domingo, 7 de junho de 2020

POR QUE LULA DISSE NÃO?


                                      "Se a Globo apoia, sou contra."
                                        Leonel de Moura Brizola

Tem sido assim faz séculos. Quando os privilegiados sociais percebem perigo na esquina, lembram-se que estamos juntos no meio da quadra. E a esquina está muito próxima. Então, apelos por unidade se agigantam:
"Vem conosco, vem Geni.
  Você pode nos salvar,
  Você vai nos redimir."
No Brasil de 2020, há bem mais do que um perigo na esquina.Em meio à tempestade pandêmica que assola o planeta, vive-se aqui a consequência macabra  de um projeto político imposto ao país pelo GOLPE contra a Presidenta Dilma Rousseff em 2016. É disso que se trata.
Enquanto os atingidos pela traição secular  das elites eram apenas a classe trabalhadora e os "petralhas", os "democratas" se mantiveram calados - afinal, as "instituições estavam funcionando", o povo tinha "escolhido" nas urnas o novo presidente e as reformas  eram nossa "ponte" para o futuro. Sérgio Moro era herói nacional e "LULA LADRÃO" estava preso pelo crime imperdoável de ter feito o melhor governo da história da República.
Foi preciso 2020 chegar, trazendo consigo a barbárie, para que rompessem o silêncio. Começam, então, os Manifestos. Por enquanto, restritos às redes.
Um, entre todos, gerou alvoroço. Não pela ausência nele do conteúdo que realmente importa, não pelo vício de origem de ter sido redigido numa sala atapetada, não por exigir somente o óbvio dever das autoridades constituídas, não por ter ignorado que sozinha a palavra democracia não significa nada, precisa de um complemento para ganhar sentido.
 A alteração dos ânimos se deu por conta de um não. Não de um não qualquer. Um não capaz de fazer balançar a unanimidade forjada. Um não que expõe a contradição nas entrelinhas. Um não de Luis Inácio.
                     Por que não "grande líder",
                     se tanta gente boa está assinando embaixo?
A resposta de Lula, tão falador, desta vez veio muito curta. E direta:
"Estou dizendo pra gente não pegar o primeiro ônibus. Estão querendo reeducar o Bolsonaro, mas não falam em reeducar o Guedes. O editorial do Globo, que apoia o Manifesto, é uma proposta de acordo para salvar o GOLPE."
Talvez porque, na ânsia de cativar apoiadores e justificar a si mesmos, os redatores do "Estamos Juntos" lembraram a luta pelas "Diretas Já" como exemplo a ser seguido. E Lula sabe que a história tem se repetido. 
Nas jornadas de 1984, "fomos juntos" em busca de uma democracia perdida vinte anos antes. O prolongado "mal-estar na cultura" tinha trazido a classe média para o campo de oposição à ditadura. A necessidade estabelecida naquela hora abafou por um tempo os preconceitos de classe, de etnia e de gênero, alicerces fundadores da sociedade brasileira. O movimento das ruas não atingiu seu objetivo imediato. A "Emenda das Diretas" não foi aprovada no Congresso, mas ele foi o passo que faltava para liquidar o regime militar implantado em 1964. Nele, o protagonismo da classe trabalhadora foi fundamental.
Terminado o arbítrio, na primeira eleição direta para a presidência da República depois de 1960, veio de novo o antigo embuste dos "privilegiados". Na forma de um golpe midiático, chutaram a Geni.E Fernando Collor de Mello chegou como porta-voz dos "democratas" para impor ao país o novíssimo projeto do capitalismo internacional.
Nas jornadas virtuais de 2020,em nome de uma suposta pacificação nacional, de uma volta ao normal de "antes", deixa-se para um segundo momento, como sempre, as lutas pelos direitos surrupiados às trabalhadoras e trabalhadores, pela reversão da entrega do patrimônio público à iniciativa privada, pelo fim da iniquidade social. O que não é um bom sinal. Faz crescer a possibilidade de uma cilada logo adiante. 
Talvez por isso, LULA DISSE NÃO.


                                                                                                  MARIA

domingo, 31 de maio de 2020

PARA UM OUTRO MUNDO, UM OUTRO CURRÍCULO

POR QUE NÃO?

1) Por que não, trocar boa parte da gramática pelo desafio de ensinar a ler nas entrelinhas?
2) Por que não, contar a história da guerra do Paraguai pelo ponto de vista paraguaio?
3) Por que não, trabalhar os corpos como festa na biologia e na educação física ou na química e na educação artística?
4) Por que não, considerar o corpo humano como guardião do respeito pela vida planetária nas humanas e nas exatas?
5) Por que não, ensinar matemática destacando que a operação mais importante é a divisão equitativa da riqueza?
6) Por que não, mostrar a invisibilidade dos " involuntários" da pátria nas aulas de literatura, história e geografia?
7) Por que não, buscar a coerência entre o que se diz e o que se faz, em todos os momentos?
8) Por que não, admitir que uma prova não prova nada seja qual for o componente curricular?
9) Por que não, reconhecer que o conceito de meritocracia, em qualquer nível de ensino, é uma fraude numa sociedade perpassada pela iniquidade?
10) Por que não, utilizar o fio curricular para tecer um mapa-múndi pintado com as cores do arco-íris?
11) Por que não, tornar o espaço escolar  um centro produtor de vacinas contra o personalismo e a perversidade, a indiferença e o moralismo hipócrita, o capital e a barbárie? 
12) Por que não, compreender que na construção do conhecimento a pertinência da pergunta feita é mais importante do que qualquer resposta?
13) Por que não, uma prática curricular que possa contribuir para superar a "normalidade" que nos trouxe a 2020?
                                                                                  MARIA

terça-feira, 26 de maio de 2020

POR QUE 2020?

Talvez o Brasil esteja hoje protagonizando o apogeu de um processo político golpista que começou a ser colocado em prática com o impedimento fraudulento da Presidenta Dilma Rousseff, avançou com a também fraudulenta condenação do ex-Presidente Lula e consolidou-se com a farsa eleitoral de 2018. Tudo isso alimentado pela disseminação do ódio e da intolerância com o que não é espelho, que inviabiliza qualquer debate racional sobre a realidade, sequestrando o pensamento crítico. Impossível não relacionar a situação contemporânea  com a história vivida lá atrás, nos idos da década de 1960.
Em 1964, foi deposto, por um complô civil-militar, o Presidente João Goulart, legitimamente eleito e com seus poderes presidencialistas confirmados pelo voto de 95% dos eleitores, através do Plebiscito  realizado um ano antes. Portanto, um flagrante e inegável ato de desrespeito à vontade popular. Mas também  uma flagrante e inegável subserviência da elite econômica nativa aos interesses do capital internacional, liderado pelos EUA.
Tal como no impedimento de Dilma Rousseff, eleita em 2010 e reeleita em 2014, com 54 milhões de votos. De novo, um flagrante e inegável ato de desrespeito à vontade do povo expressa nas urnas.E, de novo também, flagrante e inegável ato de subserviência ao Império, praticado pela classe rica.
Logo em seguida, naquele tempo, foram perseguidas, desmoralizadas publicamente e cassadas as lideranças que podiam fazer o contraponto. Entre elas, o ex-Presidente JK, que poderia ter apoio popular para uma recandidatura à Presidência da República - acusado e condenado por atos de corrupção que nunca foram juridicamente comprovados. 
Tal como agora repetiu-se com Lula, que poderia ter sido reeleito há dois anos. E tem acontecido com inúmeras outras lideranças do MST e do MTST. Além  da impunidade garantida aos mandantes dos assassinatos de Marielle e Anderson, da juventude negra, dos pobres da periferia, das mulheres guerreiras, do índios...
A base ideológica que garantiu o sucesso inicial daquele golpe era propagandeada pelas rádios, pela televisão que iniciava, pelos jornais e revistas, pelas falas do púlpito - as redes da época.Falava do perigo comunista, da degradação dos costumes, dos ataques à "sacrossanta" família, da "liberalidade" de alguns professores. Inimigos  da Pátria todos eles, que não colocavam Deus acima de tudo. 
Tal como no presente repete-se aos olhos de todos o discurso de ódio, pregando a morte do diferente e potencializando-se pela explosão dos meios informatizados de comunicação. Os argumentos continuam os mesmos.
A primeira eleição presidencial organizada pelos "salvadores" de então fantasiou-se de democracia para que um "colégio eleitoral", "eleito" pelo povo, indicasse o novo Presidente da República - um homem das fileiras do Exército, já escolhido previamente pela cúpula militar que estava no comando,  de acordo com os interesses do capital internacional e com a subserviência da colonialista, patriarcal e escravocrata sociedade brasileira. Mas, principalmente, formada por "cidadãos de bem".
Tal como em 2018 onde a primeira eleição presidencial após "O 16" teve ainda mais ares democráticos. Afinal, a fantasia vestida chamou-se "as instituições estão funcionando". Mal, funcionando mal, como todos sabiam mas não diziam. E os "cidadãos de bem", saudosos de um tempo de trevas, outra vez entregaram a "mãe gentil tão distraída" à sanha do deus-mercado. Elegeram um sujeito/morte com um imenso potencial para destruir, porque era o que tinham E não vacilaram. Alguns já se arrependeram. Outros, só fingem que não sabiam. 
Acontece que depois de 64, veio 65, 66 e 67. Alguns olhos foram se abrindo e vendo o arbítrio. A resistência cresceu. Então, precisou 68, o ano que só terminaria muitos anos depois. Essa história todos sabem.
Será 2020 o 68 que nos cabe no momento? 
Para onde um ano assim,tão marcado historicamente, levará os brasileiros, a humanidade e o próprio planeta, ainda não sabemos. O que não podemos esquecer é que, nele, além do verme, temos o vírus. E, como disse Gramsci, só a luta pode ser prevista.
Quem sabe, o primeiro passo  para seguir adiante seja um olhar reverso sobre as estradas que nos trouxeram a 2020, tentando compreender porque chegamos a ele. Para, quem sabe, fazer diferente no adiante, abrindo outros caminhos.


                                                                                             MARIA





  



sexta-feira, 22 de maio de 2020

UM ALÔ PRA JUVENTUDE DE TODAS AS IDADES

Meus queridos, queridas e querides

Escrevo porque tenho saudades. Dos abraços e dos beijos. Dos olhos nos olhos. Do calor dos corpos. Das vozes no vento. Da balbúrdia a cada encontro.
Daqui do meu canto, ao som do mar que o vento me sopra,continuo pregando a rebeldia. E que rebeldia é esta exigida pelos tempos?
Ora, bem sei que o distanciamento físico é, no momento, a condição primeira para que se possa voltar um dia desses à festa cotidiana que a vida pode e deve ser, apesar dos pesares. Então, respeitá-lo é hoje a expressão maior de rebeldia. Que não nos falte rebeldia, pois. Contra o capital. Que nos quer aglomerados e indiferentes às filas dos sem-renda, ao medo dos sem-teto, ao desamparo dos índios, à insegurança dos que estão trabalhando nas ruas. Que nos quer submissos ao "espírito da época" - personalista, exibicionista, consumista e oportunista.
Todavia, mesmo isolados, podemos, devemos e queremos continuar falando, cantando, dizendo poesias, aprendendo e ensinando. Pelas "redes". Pois é.
Essas "redes" que tantas vezes vocês tentaram me convencer a usar e nunca conseguiram. Nessas "redes" em que continuo enxergando profundas insuficiências e graves distorções da realidade. Mas em que estou aprendendo a transitar. Porque é preciso. E, quando é preciso, se faz.
Agora tenho whats, participo de lives, o "Andarilho" está no facebook. O até aqui inimaginável invadiu minha realidade. 
Daqui do sul do mundo, mesmo sem poder mergulhar os pés nas águas geladas do  Atlântico ( a praia está interditada em nome da vida), continuo espalhando panfletos nesse oceano virtual, como se fossem mensagens em garrafas lançadas ao mar. Alguém pode encontrar, quiçá lhe sejam úteis. Assim, terei feito das palavras da  professora um instrumento de luta por um mundo melhor e mais feliz.
Mandem notícias. Visitem o "mariabonitadosul.blogspot.com". Contem dos medos e dos sonhos. Escrevam versos. Desenhem a hora. Chorem pelos que estão morrendo. Pensem nos que estão nascendo. Sejam valentes. Não vendam a consciência. Não se transformem "neles".
E, sobretudo, busquem dentro do peito os instantes mais belos que viveram e não precisaram de fotos ou de vídeos para ficarem na memória. São os mais valiosos e os que mais dão força para seguir adiante.
                          Beijos, Maria
                          AMOR LIVRE SEMPRE!

EM TEMPO: Livrinho imperdível - "IDÉIAS PARA ADIAR O FIM DO MUNDO", 2019, Ailton Krenak, um índio brasileiro, um mestre que vale a pena seguir.
            

terça-feira, 19 de maio de 2020

O QUE PODEMOS APRENDER COM A PANDEMIA DO CORONAVÌRUS?

Boaventura de Sousa Santos, o velho mestre português que continua nos brindando com aulas magistrais, mesmo no calor da hora, já apresenta valiosa reflexão sobre este angustiante momento histórico vivido pela humanidade. Em sintéticas 32 páginas, com o título de "A DOLOROSA PEDAGOGIA DO VÍRUS", registra as origens e os fatores propulsores da tragédia, apontando também os desafios e os compromissos atuais daqueles que desejam um mundo partilhado com justiça. 
Lendo-o, conclui-se que, frente ao "por-vir" incerto, o imprescindível contraponto só pode ser a luta por um "de-vir" possível, onde a exclusão e a negação do outro sejam substituídas pela simbiose e pela aliança entre todos os seres vivos. Ele nos faz perceber que, acima dos territórios e dos ambientes, pairam gestos e posturas. De um "abrir asas" para reverter a queda ou de um "fazer peso" para acelerar o fim.
Destaca, primeiramente, que a atual pandemia não é mais uma crise abatendo-se sobre a população mundial. Ela é, isto sim, parte/consequência (talvez o ápice) de uma crise em andamento, que devasta a humanidade há, pelo menos, quatro décadas. Não pode ser encarada como um estado de exceção dentro da "normalidade" contemporânea porque desde os anos 1980 surgem cotidianamente indícios gritantes de que o mundo está em crise. Indícios estes unanimemente reconhecidos e denunciados no seio de todos os matizes ideológicos, embora as divergências sejam muitas quanto aos fatores que a provocam e aos modos de enfrentá-la. Coincidentemente, este tem sido um tempo em que o neoliberalismo instalou-se como a visão dominante do capitalismo dito "pós-moderno", sujeitando a estrutura econômica cada vez mais à lógica do setor financeiro em detrimento do setor produtivo.
Levando em conta que a palavra CRISE pode ser definida como SITUAÇÃO EXCEPCIONAL QUE DEVE SER SUPERADA, chama a atenção para a enorme contradição em que estamos "normalmente" mergulhados - o planeta inteiro numa "situação passageira" que não passa. Há quarenta anos.Tornando-se permanente, a crise pode ser apontada como a causa de tudo. Justifica tudo. Autoriza os retrocessos sociais,trabalhistas, humanitários, que vão cobrindo aceleradamente todos os continentes. Respalda ataques intensos ao ambiente natural. Desfigura até mesmo a esquerda política. Corrompe sentidos e significados. Impede questionamentos e consegue esconder seu maior segredo - a necessidade que tem da própria permanência. Para que o planeta e a humanidade continuem sendo brutalmente degradados em benefício da riqueza de poucos , muito poucos. Embora às custas de catástrofes ambientais e sanitárias até aqui inimagináveis.
Assim, a pandemia vem tão somente tornar mais"normal" a "normalidade" da crise, acentuando sua perversidade. Nisto está sua peculiaridade - piorar o que já estava ruim, agravar o que já era grave. Atingindo "normalmente" os grupos mais vulneráveis de "sempre" - os círculos sociais mais explorados e/ou discriminados, que carregam dores invisíveis  nos tempos "normais" - as mulheres as negras e negros, os trabalhadores informais (ditos autônomos), os sem-teto, os grupos indígenas, as populações urbanas periféricas, os portadores de necessidades especiais, as velhas e velhos, entre tantos outros.
Deixará lições amargas e Boaventura antecipa várias, salientando uma: O vírus não vai, por si só, transformar a realidade social. O racismo, o machismo, a homofobia, o fanatismo religioso, bem como a ganância capitalista pelo lucro máximo, vão permanecer.Além disso, a pobreza e a extrema pobreza vão aumentar.
Leitura imperdível para quem sabe da radicalidade da luta. Porque a pandemia um dia passa, mas o Brasil que emergirá dela será um país estilhaçado, com uma ordem burguesa em conflito interno, onde o irracionalismo e o obscurantismo estarão livres para continuar matando. Um lugar em que será, mais do que nunca ,necessário insurgir-se...
-para subverter a ordem,
-para distribuir a renda,
-para reinventar a vida.
                                             MARIA

sexta-feira, 15 de maio de 2020

O FIM DO MUNDO OU O FIM DE UM MUNDO?

Não sabemos para onde vamos. Mais do que nunca a imprevisibilidade se faz presente em nossos dias. Certezas "absolutas" são derrubadas a cada hora. Otimistas e pessimistas são desmentidos a cada dia pela realidade. "Tudo que parecia sólido desmanchou no ar", fazendo a humanidade vivenciar, por via extremamente dolorosa, a concretização de uma possibilidade já levantada por Marx e Engels no seu Manifesto de 1848.
Confinados que estávamos no perverso sociometabolismo do capital, nos estreitávamos num tempo presente reduzido ao instante, sem prestar atenção nem ao passado nem ao futuro. Vivíamos de migalhas ou de destroços, sem perceber. Nos contentávamos com o desejo de ter, com prazeres miúdos, com pequenas virtudes. Era o possível, afirmávamos. Talvez para aplacar a consciência.
Deslumbrados que estávamos com o crescimento exponencial da tecnologia científica, com o desenvolvimento da informática e da automação, com as imagens fulgurantes da sociedade do espetáculo, nos embrenhamos em um modo de vida onde valores minimamente humanitários foram trocados por um padrão existencial em que as pessoas só se sentem realizadas quando adquirem bens materiais ou conseguem  ocupar espaços de poder, por ínfimos que sejam. O personalismo se sobrepôs ao respeito pelo coletivo. A aptidão para competir ganhou mais importância do que a disposição de partilhar.
Sem provas, mas inflados de convicções, "marchávamos cegos pelo continente", "como se não houvesse amanhã", ignorando todos os "gritos de alerta". Nossos passos na direção errada pareciam passos certos. Ou inevitáveis. Até tropeçarmos no invisível.
Já confinados no tempo, precisamos, além disso, ficar  confinados no espaço. Para não morrer.
Abriremos os olhos? Ou continuaremos nessa  corrida  vertiginosa em direção do abismo?

EM TEMPO:Para as milhares, quiça milhões, de vítimas fatais da COVID 19, 2020 está sendo o ano do fim do mundo.

                                                                  MARIA