segunda-feira, 28 de agosto de 2023

COM A HISTÓRIA NA MÃO

 Em 31 de agosto de 2016, Dilma Rousseff, reeleita em 2014 com mais de 54 milhões de votos, foi afastada do cargo após três meses do início de um  processo fraudulento contra ela no Senado da República. Aquele crime, fantasiado de "combate à corrupção", foi cometido por 61 impolutos senadores, com a cumplicidade, por ação ou omissão, dos mais diversos setores da sociedade brasileira. Sob a batuta do "grande irmão"  do norte. Com a rede globo  "comandando a massa". " Com o supremo, com tudo"
No caminho percorrido pelo golpe, iniciado em 2013, as pedras colocadas foram insuficientes para impedir seu avanço. O "não vai ter golpe" foi incapaz de detê-lo. Não furou a bolha. Não chegou onde devia.
Mesmo assim, para as organizações de esquerda - Partidos e Movimentos - aquele ano foi um momento de reencontro. Gente que não se via há tempos, encontrou-se na Praça de novo. E nela recebeu os que chegavam pela primeira vez. Logo perceberam a brutalidade do ataque, mas demoraram um pouco mais para perceber a fragilidade da resistência. E o golpe foi sendo...
Hoje, todas, todes e todos sabem, não é preciso contar, como foi a queda no abismo a partir de então. Cada vez que se pensava ter chegado ao fundo - pior não podia ficar - caia-se um pouco mais. Foram caindo os pretos e as pretas, os uberizados das periferias e os povos originários, as mulheres e as crianças, poetas e cantadores, servidoras e servidores públicos, a classe trabalhadora inteira. Muitas fomes voltaram. Muitas mortes chegaram.
Neste agosto de 2023, o Tribunal Regional  Federal (TRF1), com sede no Distrito Federal, inocentou Dilma em segunda instância do crime a ela atribuído pelo tribunal farsesco de 2016. As ditas "pedaladas fiscais", motivo oficial do seu impedimento, não foram comprovadas.
Na prática, o TRF1 rejeitou uma apelação do MPF de Brasília, para que o Sistema Judiciário Brasileiro confirmasse a responsabilização de Dilma e, consequentemente, inocentasse cada "tchau querida" gritado ou sussurrado lá nos idos de 16 - no congresso nacional, na grande imprensa do país, nos corredores das universidades, nas arenas de futebol, nos atos organizados pelas classes médias, nos festejos da escória dominante. O Tribunal não responsabilizou Dilma, logo não  inocentou ninguém além dela própria.
Esta decisão judicial tão tardia não é, contudo, inócua, embora possa parecer. Não anula o impedimento, não leva a Presidenta ao cargo outra vez, mas representa sim significativa reparação histórica. Será referência chave daqui em diante, toda vez que se vá defender a democracia no Brasil, mesmo que seja essa rarefeita democracia liberal.
Dilma Rousseff foi vítima de uma perseguição violenta e teve a cassação do seu mandato em total desconformidade com a Constituição Brasileira. Confirmado institucional e legalmente tal fato, abre-se o caminho para que se conte ao povo a gravidade do crime cometido. E seus motivos. E suas consequências. 
Com a história na mão, é possível não só chamar o golpe de golpe - porque foi golpe - como, quem sabe, aprender a evitar o próximo.
                                                                
                                                                                        MARIA