sábado, 29 de abril de 2023

BRAVA GENTE

 A luta pela terra por aqui começou em um remoto abril, logo que alguns habitantes originários destas plagas começaram a perceber que não eram visitantes os que chegavam. Eram invasores. Corria o ano de 1500.
Ao longo dos séculos seguintes, dela fez parte a luta contra a escravidão colonial e imperial. Como dela também tem feito parte a luta contra a fome histórica das famílias proletárias. A luta pela preservação ambiental. A luta por dignidade profissional. A luta pela democratização da vida. Quanta luta lutada! Quanta luta abraçada, quando a luta é pela terra. Mas no interesse de quem ela tem atravessado os tempos?
Talvez no interesse de quem tem fome de pão e de justiça. De quem entende ser a preservação ambiental um fator primordial para a continuidade da vida planetária. Ou de quem simplesmente anseia por respeito no exercício de sua atividade profissional. Além, é claro, do interesse específico das muitas e muitos que, sendo do campo, não tem um campo para trabalhar. Mesmo que a maioria dos interessados não chegue a percebê-la.
No Brasil contemporâneo, esta luta pela terra tem como representante maior o MST, que organizando-se desde meados da década de 1970,  só foi criado oficialmente em janeiro de 1984, durante o " Primeiro Encontro Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra", acontecido em Cascavel, no Paraná. Ele é a continuação dos 500 anos de combate ao latifúndio e à opressão de classe. OCUPANDO, RESISTINDO, PRODUZINDO, tem seguido estrada afora.
Ferozmente combatido pela escória dominante em nossa sociedade, com a cumplicidade ostensiva da mídia hegemônica e o silêncio covarde de todas e todos que "não tocam no assunto", continua em frente, acreditando que só o povo organizado é capaz de escrever sua própria história.
Faz tempo que os SEM TERRA fizeram de abril um marco em sua prática revolucionária. Começaram em 1997, com uma marcha sobre Brasília, em que um "mar de gentes" OCUPOU a capital federal por um dia, sem depredá-la, para expressar o luto que já durava um ano. Em abril de 1996 tinha acontecido o massacre de Eldorado dos Carajás. Vinte e um lutadores tinham sido assassinados a tiros pela brigada militar do Pará. Ao lado deles estiveram sindicalistas, lideranças de diversos movimentos sociais, desempregados, servidores e servidoras  públicas. Em Porto Alegre, na frente do Palácio Piratini, professoras, colonos e sindicatos diversos fizeram eco ao grito vindo de Brasília. 
A partir de então, abril consolidou-se como destaque em sua agenda de lutas.
Em abril de 2018 , outro abril, sua mobilização eficaz contribuiu em muito para dar a Lula o tempo necessário a uma saída digna daquele sindicato. Com sua ajuda, ele foi porque quis. E quando quis. Dali em diante, foram eles, os SEM TERRA, que formaram a linha de frente no campo de batalha em Curitiba. E não retrocederam um passo, por 580 dias. A Vigília permanente que fizeram na porta da Polícia Federal não deixou o mundo esquecer quem estava lá dentro. Ao contrário, trouxe o mundo para aquela porta. Foi pressão imprescindível  por LULA LIVRE. Se, em 2022, foi possível dar o primeiro passo para o fim do pesadelo, derrotando eleitoralmente a besta-fera, muito se deve a eles.
Neste abril de hoje, espalham-se outra vez pelo país suas ações coordenadas, marcando os 27 anos de Eldorado de Carajás e pressionando por Reforma Agrária, como medida  de combate à fome, ao trabalho escravizado e à devastação ambiental. De novo, na luta solidária  por multidões.
No entanto, a conjuntura do momento atual lhes é bastante adversa. Seus inimigos ainda têm muito poder. Muitos deles ocupando espaços nos parlamentos - federal, estaduais e municipais. Outros tantos, bem armados e cercados de jagunços em suas imensas propriedades. CPIs federal e estaduais sendo criadas para investigá-los e criminalizá-los. Como se não bastasse, o ministro da agricultura ( PSD ), chamando-os de invasores. Não sem antes alertar que "invasão"  é crime. Para regalo das telonas e telinhas.
Tais ataques têm dois objetivos fundamentais . O primeiro é fazer uma cortina de fumaça que esconda os crimes bolsonaristas  ora sob investigação . O segundo é fragilizar o maior e melhor organizado Movimento Social da  América Latina.
Olhos abertos, portanto. Boca também. È hora de entrar em campo. Se poucas são as certezas que ainda restam, a maior delas é a do valor do MST para a luta pela emancipação da classe trabalhadora. 
Que em toda assembleia sindical ou estudantil, em toda plenária partidária, em todo coletivo organizado, sejam tiradas e divulgadas moções de apoio ao Movimento, bem como votos de repúdio às iniciativas de ataque. Que em todas as ações diretas organizadas por um coletivo de luta esteja pautada uma abordagem sobre o tema. Que em todas as tribunas ocupadas pela esquerda as vozes se ergam anunciando suas realizações cotidianamente. Que sejam usados os seus bonés. Que na camiseta esteja escrito LUTE COMO UMA SEM TERRA.
  
                                                                                                        MARIA