quarta-feira, 8 de novembro de 2023

QUEM É MESMO O TERRORISTA?

 


"Israel acredita que, se confinar e esmagar os palestinos com força e rigor suficientes, eles se extinguirão e os israelenses viverão "felizes para sempre". É o que tem sido feito nos últimos 75 anos, mas, até aqui, não funcionou. Tem produzido, isso sim, um desespero no lado palestino que leva à explosões como a que vimos no último 7 de outubro."
OMAR BADDAR
PALESTINO, ANALISTA POLÍTICO
JACOBIN BR, 18/10/2023


Talvez o  mundo ocidental não se levante pela Palestina. Teve 75 anos para fazê-lo e não o fez. Os olhos deste mundo, até aqui cerrados para as atrocidades cotidianas praticadas pelo Estado de Israel contra o Povo Palestino  há décadas, agora se abrem, mas só enxergam "o terrorismo do HAMAS". E, mesmo as vozes, quase todas, levantadas para "repreender" o governo israelense pelos excessos na resposta, salientam sempre, antecipada e enfaticamente, que "o HAMAS é terrorista". Aí, vão dormir em paz. Algumas, por não conhecerem a história. Outras, mesmo conhecendo.
Todavia, para melhor compreender esta guerra de extermínio empreendida por Israel contra palestinas e palestinos, é imprescindível refletir sobre algumas questões fundamentais. Entre elas, QUANDO COMEÇOU e O QUE É O HAMAS. Apesar desta necessidade,  na maioria dos textos e das falas  contundentes dos "especialistas da grande mídia ocidental", neste trágico final de 2023, elas não têm estado presentes. Talvez deliberadamente.
COMEÇOU em 14 de maio de 1948, com a instalação oficial do Estado de Israel, por resolução da ONU, como parte do Plano de Partilha da Palestina, por ela elaborado logo depois do fim da II Guerra. Tudo sob pressão do EUA e do Movimento Sionista Internacional. Foi assim que o ocidente capitalista cravou seu tacão de ferro no Território dos Palestinos. O objetivo era concluir o que o "protetorado"  britânico, lá imposto ao final da I Guerra, não tinha conseguido terminar: tornar a região uma "sentinela avançada" do capitalismo "do lado de cá" em meio aos árabes, "nunca confiáveis", e "nas barbas" da então UNIÃO SOVIÉTICA, "amiga deles". A justificativa farsesca para aquela decisão foi a compensação histórica devida ao povo judeu por seu holocausto durante o período nazista. Os países árabes do entorno não aceitaram. Entraram em guerra com o novo país naquele mesmo dia. Mas foram derrotados. Os vizinhos  tinham chegado muito bem armados e com padrinhos importantes. Aquela primeira vitória militar israelense permitiu de pronto seu avanço na ocupação de territórios e o primeiro grande massacre palestino.
Assim, o 14 de maio de 1948 está inscrito na memória histórica do povo palestino como o " DIA DA NAKBA". NAKBA é o termo árabe para "CATÁSTROFE". Um dia que não acabou mais a partir de então. Catástrofes que se repetem, se transformam e só pioraram com o passar do tempo. Com guerra ou sem guerra. Cidades destruídas, atividades econômicas impossibilitadas, campos de refugiados espalhados e constantemente atacados, vidas interrompidas, violações todas, privações, as máximas. MAS RESISTÊNCIAS, SEMPRE. Entre elas, a do HAMAS.
HAMAS é a sigla em árabe do MOVIMENTO DE RESISTÊNCIA ISLÂMICO. Para conhecer sua história, o primeiro passo é descolar dele a alcunha pejorativa e islamofóbica de terrorista, que lhe tem sido atribuída pela mentalidade colonialista das potências ocidentais. Só elas podem. Foi criado em 1987, durante a rebelião conhecida como "PRIMEIRA INTIFADA PALESTINA" (despertar em árabe ).
A classificação de "terrorista" torna-o indefensável até mesmo para pessoas e coletivos simpatizantes da causa palestina. No entanto, tal qual democracia, a palavra terrorista é mesmo relativa. No Brasil, por exemplo, o MST é chamado de terrorista por muitos. Os criminosos do 8 de janeiro e da bomba no aeroporto, não. Este condicionamento imposto pela manipulação ideológica do capital internacional traz nas entrelinhas, quando não a defesa da  "solução final" para o povo palestino, uma visão salvacionista de ajuda ocidental aquele povo para que não pereça, mas negando-lhe o direito de lutar por sua própria emancipação.
O HAMAS tem por objetivo a criação de um Estado Palestino Soberano que ocupe legalmente terras da Palestina Histórica. Atua nos campos social, cultural, político institucional e militar. Desde 2006, governa a região de Gaza, tendo sido eleito democraticamente. A Autoridade Palestina, já reconhecida internacionalmente desde que abdicou da luta armada, governa a região da Cisjordânia. Não por acaso a cidade de Gaza, desde 2007, tem sido mantida sitiada pelo exército israelense, alvo de bombardeios sistemáticos, com precários serviços de saúde e educação, sendo considerada, por entidades humanitárias internacionais que a assistem, a maior prisão a céu aberto do mundo contemporâneo. Tudo isso porque o HAMAS tem adotado a postura de não ceder às exigências de Israel, EUA e União Europeia. Os habitantes dos territórios ocupados, cansados de esperar por um acordo de paz que não vem, passaram a considerá-lo o  símbolo atual da RESISTÊNCIA PALESTINA. 
Em 2017, a ANISTIA INTERNACIONAL denunciou Israel por usar regime de apartheid "que domina a população palestina como um todo, praticando políticas de segregação, expropriação e opressão contínuas que caracterizam crimes contra a humanidade." O mundo fingiu não ouvir. Recentemente, o Secretário Geral da ONU, Antônio Guterres, afirmou que o ataque a Israel em 7 de outubro não aconteceu no vácuo, porque o povo palestino vive aterrorizado por Israel há 75 anos. Também fingiram não ouvi-lo, as maiorias.
Frente a uma realidade assim constituída, a pergunta que não pode ser calada é " Será o HAMAS mesmo o terrorista?"  Dependendo da resposta dada pela humanidade, saberemos se ainda é possível recriar o mundo, antes que ele acabe. Ou não.

                                                                                MARIA 


  "Quem cala sobre teu corpo
   Consente..."´
   MILTON  NASCIMENTO


sábado, 30 de setembro de 2023

OS CAMINHOS PARA 2024

 " SE FOSSE RESOLVER,
    QUERIA TE DIZER..."
Osvaldo Montenegro, " Agonia"


Momento eleitoral nos municípios, 2024 poderia tecer uma rede de comprometimento popular com o projeto de mundo defendido internacionalmente por Lula. Ou não, se mantido for o mergulho das organizações de esquerda na cultura política tradicional. Mergulho este que as faz enxergar o povo "de fora", quando não "de cima", e, a si mesmas, como "defensoras" e não como "organizadoras" da classe trabalhadora.
Caso a opção fosse pela tecitura da rede popular,  seria uma escolha difícil, embora aparentemente simples. Iria exigir a superação do personalismo, do voluntarismo arbitrário, da auto louvação incessante, do poder decisório nas mãos de poucos, tão presentes em todos os lados.
Seria necessário apostar na construção coletiva das inserções individuais nos diferentes espaços de luta entre as classes - conselhos, fóruns, congressos, conferências, comitês, tribunas parlamentares, direções partidárias e sindicais. Porque só  um sujeito coletivo será capaz de virar o jogo e garantir uma vitória que não seja de pirro. Nesse sentido, talvez fosse oportuno ampliar e aprofundar a discussão sobre voto nominal e voto em lista. Qual deles seria melhor para a formação deste sujeito coletivo?
Seria, ainda, fundamental buscar a formação política da militância social. Aquela só alcançada pela combinação sistemática entre reflexão coletiva e ação direta na ruas. A avaliação de cada passo para identificar os erros nele cometidos, evitando-os  no passo seguinte, seria indissociável de uma qualificação assim levada adiante.
Mais do que tudo isso, no entanto, tal caminho, caso aberto, iria requerer "uma posição à esquerda do possível", como dizia um velho mestre do século XX. Não por delírio ou insensatez, mas por conhecimento histórico da luta. Todos os avanços obtidos pelos oprimidos quanto a direitos e qualidade de vida nos últimos duzentos anos foram devidos à coragem daquelas e daqueles que se colocaram à esquerda do possível. E lutaram pelo improvável.
Quando o PT surgiu na cena política brasileira e latino-americana, lá no início da década de 1980, trazia consigo o grito sufocado, a fome de pão e de justiça, o sangue derramado, o sonho da Revolução, a proposta de uma governança democrática e popular e, como horizonte, uma sociedade socialista.
Espalhou-se pelas esquinas e nas praças. Nas portas das fábricas e dos colégios. Nas rodas do porto e nos botecos das periferias. Nas sacristias das igrejas libertárias e nas assembleias sindicais.
Encantou corações e mentes pela ousadia de ser diferente e propor o novo. E pela ardência... Pelos mesmos motivos, também despertou medo e ódio.  Preconceitos, constrangimentos , perseguições, não foram poucos. Bem pouco provável que vingasse, mas vingou. Ao longo da década de 1990, Prefeituras foram sendo conquistadas no país inteiro, o "modo petista" de governar espraiou-se pelas ruas de cidades grandes e pequenas. Um Orçamento Participativo radical, uma Escola Cabana ou Cidadã, a Constituinte Escolar, a valorização dos servidores públicos, o respeito pelos movimentos sociais, faziam parte. Do novo e do improvável. A campanha para o governo estadual em 1998 "vermelhou" o Rio Grande. Não tinha filiada ou filiado que saísse de manhã para trabalhar sem a bandeira nas costas e um RBS MENTE colado na mochila ou na bicicleta. Na posse de Olívio, as bandeiras de Cuba e do MST tremularam nas janelas do Piratini. Depois, no alvorecer do XXI, a estrela chegou ao Palácio do Planalto. Ainda levava consigo o desejo de pagar dívidas históricas e  de fazer diferente. E os governos Lula e Dilma muito fizeram  em termos de políticas sociais para "melhorar" a vida do povo. No entanto, reformas estruturais nunca foram feitas, a economia seguiu norteada pelo neoliberalismo, a concentração de renda continuou inalterada, o agronegócio manteve o latifúndio e a mídia burguesa permaneceu intocada. O protagonismo do Partido foi esfacelado pela institucionalidade.
O tempo passou. Veio o golpe, a prisão de Lula, o neofascismo, a eleição de nossas vidas e a oportunidade de recomeçar, mesmo sem a guerra acabar. A história que virá vai depender da escolha do caminho para esse recomeço. É pouco provável que seja o da construção da rede. Mas ele não é impossível de trilhar. Só está à esquerda do possível.
   
                                                                                                       MARIA

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

A HISTÓRIA QUE NOS CONTAM

 Por longuíssimos 21 anos, em todos os dias 31 de março os colégios eram "orientados" a comemorar a "revolução de 64" - bandeira nacional içada aos ventos, mão no peito para cantar o hino, fala da diretora louvando as "forças armadas", que tinham salvo o Brasil dos "comunistas". Aplausos. E algum castigo para os estudantes que não tivessem ficado suficientemente impávidos  durante o momento cívico. Nas periferias, o mais usado era a suspender a merenda do dia. E 31 de março nem era a data certa. O fato comemorado fora concretizado no dia primeiro de abril. Mas o erro não se tratava de um descuido histórico, fazia parte da estratégia. Primeiro de abril não era um dia apropriado para a "construção" de uma verdade patriótica porque podia parecer mentira. Ficou tão sedimentada a versão propagada que, quando o mau tempo acabou, alguns continuaram celebrando. Tinha virado tradição...
Ao final do século XIX, nos primórdios republicanos, o povo, apanhando do governo novo, começava a perceber que "república" não significava necessariamente "povo no poder". E sentia saudades do imperador. Os senhores da nova ordem entenderam, então, que estava faltando um herói que ajudasse na legitimação simbólica do regime recém instaurado. Um republicano raiz. Mas, olhando na volta, não encontraram ninguém. Foram, então, buscar no passado. Chegaram em Tiradentes, o bandido mor da monarquia. Trouxeram-no para defender a república, colocando a si próprios como os realizadores do sonho daquele mártir da liberdade. Como parte do plano, apressaram-se em decretar o 21 de abril como feriado nacional. Herói-feriado é mais lembrado ainda. E Tiradentes, um militar, atravessou o século XX sendo "promovido" - patrono das polícias, ´patrono cívico da nação, herói da pátria. Mesmo sem rosto e sem corpo. A face do Cristo que lhe deram e a farda de alferes que tinha bastaram para garantir ao povo que a república valia a pena. Mesmo que a vida não melhorasse.
Em 1994, por iniciativa do então ministro do exército (o ministério da defesa só seria criado em 1999), foi estabelecido que 19 de abril seria o "dia do exército". Um afago na autoestima dos soldados, tão abalada desde o fim do regime por eles "comandado". Mas por que 19 de abril? Porque era a data da Batalha dos Guararapes, acontecida em 1648, durante a insurreição pernambucana contra o holandeses que ocupavam a região. E nos quartéis era considerada o marco simbólico da criação do exército brasileiro. Mesmo que em tal tempo não existisse ainda um Brasil. As  "forças armadas" outorgavam-se o papel de precursoras da nacionalidade, manifestação primeira  da identidade patriótica, fundadoras...
Logo após a nossa chamada "independência", a "coroa do fundador" era mostrada ao povo como o símbolo da soberania do país. Era a classe dominante induzindo o povo a ver no príncipe governante a representação da liberdade nacional.  A data primeiramente escolhida para celebrar o aniversário da "pátria" recém nascida foi 12 de outubro. Dia em que "pela escolha dos povos nas praças públicas" D. Pedro tinha sido aclamado imperador do Brasil. Talvez não por acaso, também dia do seu aniversário. Mas, em 1831, ano da abdicação, a assembleia imperial decidiu que a partir de 1832, o 12 de outubro não devia mais fazer parte dos festejos da independência. Ela passaria a ser comemorada em 7 de setembro - o dia em que "uma espada", do guerreiro salvador, fora levantada para garantir a "libertação". Era a militarização da vida política começando a caminhar devagar  na terra brasilis.
É assim a história que nos contam. Plena de tradições, protagonizada por heróis, forjada nos palácios e nos quartéis, transmitida pelas instituições, indutora de preconceitos e submissões. Escrita e divulgada para atender as necessidades e interesses das classes economicamente dominantes. Garante, acima de tudo, a continuidade da cegueira ideológica  que sustenta o capital. 


                                                                                                        MARIA


segunda-feira, 28 de agosto de 2023

COM A HISTÓRIA NA MÃO

 Em 31 de agosto de 2016, Dilma Rousseff, reeleita em 2014 com mais de 54 milhões de votos, foi afastada do cargo após três meses do início de um  processo fraudulento contra ela no Senado da República. Aquele crime, fantasiado de "combate à corrupção", foi cometido por 61 impolutos senadores, com a cumplicidade, por ação ou omissão, dos mais diversos setores da sociedade brasileira. Sob a batuta do "grande irmão"  do norte. Com a rede globo  "comandando a massa". " Com o supremo, com tudo"
No caminho percorrido pelo golpe, iniciado em 2013, as pedras colocadas foram insuficientes para impedir seu avanço. O "não vai ter golpe" foi incapaz de detê-lo. Não furou a bolha. Não chegou onde devia.
Mesmo assim, para as organizações de esquerda - Partidos e Movimentos - aquele ano foi um momento de reencontro. Gente que não se via há tempos, encontrou-se na Praça de novo. E nela recebeu os que chegavam pela primeira vez. Logo perceberam a brutalidade do ataque, mas demoraram um pouco mais para perceber a fragilidade da resistência. E o golpe foi sendo...
Hoje, todas, todes e todos sabem, não é preciso contar, como foi a queda no abismo a partir de então. Cada vez que se pensava ter chegado ao fundo - pior não podia ficar - caia-se um pouco mais. Foram caindo os pretos e as pretas, os uberizados das periferias e os povos originários, as mulheres e as crianças, poetas e cantadores, servidoras e servidores públicos, a classe trabalhadora inteira. Muitas fomes voltaram. Muitas mortes chegaram.
Neste agosto de 2023, o Tribunal Regional  Federal (TRF1), com sede no Distrito Federal, inocentou Dilma em segunda instância do crime a ela atribuído pelo tribunal farsesco de 2016. As ditas "pedaladas fiscais", motivo oficial do seu impedimento, não foram comprovadas.
Na prática, o TRF1 rejeitou uma apelação do MPF de Brasília, para que o Sistema Judiciário Brasileiro confirmasse a responsabilização de Dilma e, consequentemente, inocentasse cada "tchau querida" gritado ou sussurrado lá nos idos de 16 - no congresso nacional, na grande imprensa do país, nos corredores das universidades, nas arenas de futebol, nos atos organizados pelas classes médias, nos festejos da escória dominante. O Tribunal não responsabilizou Dilma, logo não  inocentou ninguém além dela própria.
Esta decisão judicial tão tardia não é, contudo, inócua, embora possa parecer. Não anula o impedimento, não leva a Presidenta ao cargo outra vez, mas representa sim significativa reparação histórica. Será referência chave daqui em diante, toda vez que se vá defender a democracia no Brasil, mesmo que seja essa rarefeita democracia liberal.
Dilma Rousseff foi vítima de uma perseguição violenta e teve a cassação do seu mandato em total desconformidade com a Constituição Brasileira. Confirmado institucional e legalmente tal fato, abre-se o caminho para que se conte ao povo a gravidade do crime cometido. E seus motivos. E suas consequências. 
Com a história na mão, é possível não só chamar o golpe de golpe - porque foi golpe - como, quem sabe, aprender a evitar o próximo.
                                                                
                                                                                        MARIA

segunda-feira, 19 de junho de 2023

                         OUTROS GRITOS DE INDEPENDÊNCIA


Aprendendo e ensinando a olhar, aprendendo e ensinando a ouvir. Andando e ensinando a andar, pelo chão e pelo tempo. Desenrolando  a história, ao desenrolar a vida.
Aos olhos e ouvidos de todas, todes e  todos, que queiram e possam ver e ouvir.
Multiplicando e gerando vontades de multiplicar os múltiplos gritos gritados por tantos. Vida afora, tempo afora.
Lembrando e fazendo lembrar que não precisa ser independência, de poucos, e morte, de tantos.. Pode ser independência e vida. DE TODES.
Singelamente. Amorosamente.
Aos olhos e ouvidos de uma professora, o documentário "Outros gritos de independência", visivelmente fruto de um trabalho coletivo, e com roteiro e direção de Thiago Capella  Zanotta, um dia estudante do Colégio Bibiano de Almeida, na cidade do Rio Grande , RS, transforma-se em significativo recurso político-pedagógico. Mais do que multidisciplinar. Interdisciplinar. Porque mostra a riqueza , a beleza e a grandiosidade da mistura, própria da vida. Logo, própria da escola. Permite que dancem  juntas a história e a literatura, a geografia e a língua portuguesa, as ciências e a educação física, a educação artística e a matemática. Permite até que se pense em construir coletivamente o grito necessário ao tempo presente. E nessa construção, vão perceber, talvez, as professoras, que ensinar a gritar precisa ser o centro do currículo.
Terá, assim, estado a Arte a serviço da  Educação Popular.
A  Arte a serviço da luta. DOS EXPLORADOS E OPRIMIDOS .

                                                                             MARIA

sábado, 29 de abril de 2023

BRAVA GENTE

 A luta pela terra por aqui começou em um remoto abril, logo que alguns habitantes originários destas plagas começaram a perceber que não eram visitantes os que chegavam. Eram invasores. Corria o ano de 1500.
Ao longo dos séculos seguintes, dela fez parte a luta contra a escravidão colonial e imperial. Como dela também tem feito parte a luta contra a fome histórica das famílias proletárias. A luta pela preservação ambiental. A luta por dignidade profissional. A luta pela democratização da vida. Quanta luta lutada! Quanta luta abraçada, quando a luta é pela terra. Mas no interesse de quem ela tem atravessado os tempos?
Talvez no interesse de quem tem fome de pão e de justiça. De quem entende ser a preservação ambiental um fator primordial para a continuidade da vida planetária. Ou de quem simplesmente anseia por respeito no exercício de sua atividade profissional. Além, é claro, do interesse específico das muitas e muitos que, sendo do campo, não tem um campo para trabalhar. Mesmo que a maioria dos interessados não chegue a percebê-la.
No Brasil contemporâneo, esta luta pela terra tem como representante maior o MST, que organizando-se desde meados da década de 1970,  só foi criado oficialmente em janeiro de 1984, durante o " Primeiro Encontro Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra", acontecido em Cascavel, no Paraná. Ele é a continuação dos 500 anos de combate ao latifúndio e à opressão de classe. OCUPANDO, RESISTINDO, PRODUZINDO, tem seguido estrada afora.
Ferozmente combatido pela escória dominante em nossa sociedade, com a cumplicidade ostensiva da mídia hegemônica e o silêncio covarde de todas e todos que "não tocam no assunto", continua em frente, acreditando que só o povo organizado é capaz de escrever sua própria história.
Faz tempo que os SEM TERRA fizeram de abril um marco em sua prática revolucionária. Começaram em 1997, com uma marcha sobre Brasília, em que um "mar de gentes" OCUPOU a capital federal por um dia, sem depredá-la, para expressar o luto que já durava um ano. Em abril de 1996 tinha acontecido o massacre de Eldorado dos Carajás. Vinte e um lutadores tinham sido assassinados a tiros pela brigada militar do Pará. Ao lado deles estiveram sindicalistas, lideranças de diversos movimentos sociais, desempregados, servidores e servidoras  públicas. Em Porto Alegre, na frente do Palácio Piratini, professoras, colonos e sindicatos diversos fizeram eco ao grito vindo de Brasília. 
A partir de então, abril consolidou-se como destaque em sua agenda de lutas.
Em abril de 2018 , outro abril, sua mobilização eficaz contribuiu em muito para dar a Lula o tempo necessário a uma saída digna daquele sindicato. Com sua ajuda, ele foi porque quis. E quando quis. Dali em diante, foram eles, os SEM TERRA, que formaram a linha de frente no campo de batalha em Curitiba. E não retrocederam um passo, por 580 dias. A Vigília permanente que fizeram na porta da Polícia Federal não deixou o mundo esquecer quem estava lá dentro. Ao contrário, trouxe o mundo para aquela porta. Foi pressão imprescindível  por LULA LIVRE. Se, em 2022, foi possível dar o primeiro passo para o fim do pesadelo, derrotando eleitoralmente a besta-fera, muito se deve a eles.
Neste abril de hoje, espalham-se outra vez pelo país suas ações coordenadas, marcando os 27 anos de Eldorado de Carajás e pressionando por Reforma Agrária, como medida  de combate à fome, ao trabalho escravizado e à devastação ambiental. De novo, na luta solidária  por multidões.
No entanto, a conjuntura do momento atual lhes é bastante adversa. Seus inimigos ainda têm muito poder. Muitos deles ocupando espaços nos parlamentos - federal, estaduais e municipais. Outros tantos, bem armados e cercados de jagunços em suas imensas propriedades. CPIs federal e estaduais sendo criadas para investigá-los e criminalizá-los. Como se não bastasse, o ministro da agricultura ( PSD ), chamando-os de invasores. Não sem antes alertar que "invasão"  é crime. Para regalo das telonas e telinhas.
Tais ataques têm dois objetivos fundamentais . O primeiro é fazer uma cortina de fumaça que esconda os crimes bolsonaristas  ora sob investigação . O segundo é fragilizar o maior e melhor organizado Movimento Social da  América Latina.
Olhos abertos, portanto. Boca também. È hora de entrar em campo. Se poucas são as certezas que ainda restam, a maior delas é a do valor do MST para a luta pela emancipação da classe trabalhadora. 
Que em toda assembleia sindical ou estudantil, em toda plenária partidária, em todo coletivo organizado, sejam tiradas e divulgadas moções de apoio ao Movimento, bem como votos de repúdio às iniciativas de ataque. Que em todas as ações diretas organizadas por um coletivo de luta esteja pautada uma abordagem sobre o tema. Que em todas as tribunas ocupadas pela esquerda as vozes se ergam anunciando suas realizações cotidianamente. Que sejam usados os seus bonés. Que na camiseta esteja escrito LUTE COMO UMA SEM TERRA.
  
                                                                                                        MARIA             


                 

segunda-feira, 27 de março de 2023

A ESTRELA NECESSÀRIA

 


 Mas quem é o Partido?
 Nós somos ele
 Eu, você, todes nós.
 Ele veste suas roupas, camarada.
 Pensa com sua cabeça.
 Onde você mora é a casa dele.
 RENATO FREITAS
 Deputado Estadual PT, Paraná



 A estrela vermelha de cinco vértices é símbolo que vem de um tempo muito antigo. Representou sempre a rebeldia. A subversão da ordem estabelecida. Tem andarilhado pelos céus do mundo anunciando a luta dos oprimidos espalhados pela terra inteira.
Cada ponta, um dedo da mão trabalhadora. Cada ponta, um dos cinco  grandes pedaços do planeta. Cada ponta, um grito de luta.
È tingida de vermelho, a cor universal, "já que vermelho tem sido todo o sangue humano derramado", como cantou Gil lindamente, um dia. A cor de dentro, igual em todas e todos, prova irrefutável da raiz COMUM da humanidade. Para o bem e para o mal. Retrata a razão e a paixão, o saber e o compromisso, a organização e o empenho, todos imprescindíveis para que a luta dos "de baixo" seja eficaz na garantia de um futuro. Porque é disso que se trata.
Exige força fazê-la  brilhar nos tempos que correm. E coragem. E suor. E sacrifícios, muitos. Sangue, às vezes . Compromisso, sempre. Como exigia também nos tempos idos.
O ataque feroz do capitalismo neoliberal continua avançando globalmente. Hoje, já é perceptível que a amplidão dos estragos causados por seu fracasso de 2008 não foi suficiente para que desaparecesse. Ao contrário, está demonstrada sua notável capacidade de autofortalecimento. A crise não serviu para limitá-lo. Ele segue veloz rumo ao "ilimite", dizem os estudiosos.
Na atualidade, este projeto de mundo extrapolou a esfera econômica e estendeu a lógica  do capital a  "todas" as relações sociais e a "todas" as esferas da existência humana. Começou nos chamando de consumidores. Hoje nos transformou em mercadorias, mas nos chama de empreendedores. Para enfrentá-lo, há que compreender, antes de tudo, seu propósito de desdemocratização da vida .E os interesses ocultos  por trás disso. 
Assim, fortalecer o brilho da nossa estrela hoje  passa pela radicalização democrática de nossas ações políticas internas e externas. Democracia só se defende praticando democracia. Mas passa também pela reorganização das instâncias partidárias em busca da mobilização continua das bases. Luta  só se faz lutando.
A gravidade do momento histórico está a exigir uma estrela coletiva e popular. Formada por quantos pontinhos de luz formos capazes de agregar. Acendedoras e acendedores de estrelas é o que precisamos ser enquanto lutadoras e lutadores sociais. Fugindo do personalismo reinante, é na condição de fósforo que nos devemos  colocar. PARA AVANÇAR.

                                                                                                MARIA