quarta-feira, 26 de junho de 2013

UMA PREFEITURA PISCANDO





Na noite de 20 de junho próximo passado, a Prefeitura da cidade do Rio Grande iluminou-se, "piscou" para a manifestação popular e abriu suas portas para recebê-la. 
O Prefeito não perguntou quem eram os que chegavam, recebeu-os democraticamente como era seu dever. Não adiou o encontro, não teve medo do povo. Talvez por reconhecer-se nele. Talvez por nele reconhecer a parceria legítima para a realização da difícil tarefa de colocar o espaço da cidade a serviço das maiorias. Talvez por querer seu respaldo para aprovar na Câmara de Vereadores projetos de interesse da classe trabalhadora. Talvez por ver no diálogo dos governantes com os movimentos sociais organizados e com o povo na rua a melhor prática política para lutar contra o neoliberalismo predador, excludente e alienante. 
Por conta disso, o velho paço municipal, tantas vezes mantido fechado e no escuro ao longo de sua história, naquela noite foi do público. Mais do que por lâmpadas elétricas, iluminou-se de democracia. Tensa e intensa, temperada pela energia juvenil dos que lá estavam pela primeira vez. Não havia barreiras que separassem o Prédio do Povo, contudo este não o depredou. Apenas o vestiu com seus anseios. Talvez por senti-lo mais seu do que dos governantes. Talvez por percebê-lo belo. Talvez por não considerar necessário.
Lamentavelmente, alguns dias depois, esta experiência de democracia direta não se repetiu na frente do Parlamento Rio-Grandino, que encerrou antecipadamente suas atividades para evitar qualquer encontro com a manifestação popular. Talvez por cinismo - o que importa a voz da rua? Talvez por medo - do que nos acusará a voz da rua? Talvez por covardia. Do lado de fora, alguns vereadores ficaram. Talvez por considerarem importante a voz da rua. Talvez por serem mais espertos. Será bom saber quem são.
Das lições que ficam destas "jornadas de junho" na cidade do Rio Grande, para todos os que aqui nasceram ou um dia aqui se aquerenciaram, para todos os que delas de alguma forma participaram, tiveram notícia ou emitiram opinião, cumpre destacar a constatação de que o povo continua exigindo muito pouco e a compreensão de que só a radicalização da democracia participativa poderá impulsionar mais do que mudanças, reais transformações na sociedade. De quebra, talvez tenham impulsionado a bendita melhoria no transporte coletivo municipal há tanto tempo exigida por aqueles que o necessitam cotidianamente.
                                                                       
                                                                             MARIA



Uma leitura para compreender

As Lutas de classes na França (1848-1850), Karl Marx.



Um retorno ao velho Mestre, que com sua lucidez e atualidade ainda contribui  para a compreensão da realidade contemporânea. 

quinta-feira, 20 de junho de 2013

O que querem os que estão na rua?

Nos últimos dias, esta é a pergunta corrente entre os que mandam, os que obedecem, os dirigentes, os dirigidos, os trabalhadores e os patrões, nesta terra e neste tempo. Múltiplas são as hipóteses levantadas, multiplicando indefinidamente a pergunta inicial.
Querem melhor transporte coletivo ou só passagens mais baratas? Talvez queiram o tempo que lhes foi roubado pela "imobilidade" urbana contemporânea. Sendo na maioria jovens, querem então o que não conhecem? Marcham sob chavões populistas, como "saúde-educação", ou pela partilha justa do espaço e da riqueza da cidade, só ela capaz de oferecer a todos mais saúde e melhor educação? Levantam-se contra a opressão das maiorias, aqui existente desde o século XVI, ou por questões pontuais do sistema capitalista? Servem à situação política ou às oposições, de esquerda ou de direita? São questões ainda sem respostas para os comentaristas de plantão, mas que não esgotam as perspectivas de análise deste "grito de alerta".
A causa mais forte da perplexidade reinante não  é o desconhecimento dos motivos - motivos não faltam, e de todos os matizes ideológicos. Podem ser até mesmo a simples "novidade" do encontro ou a possibilidade de "quebrar", ao abrigo de um coletivo. O que desconcerta o senso comum é um ponto claro e objetivo: como conseguiram? 
Como conseguiram, o que os "velhos" movimentos não conseguem mais? Não estavam transformados em "homo resignatus"? Como conseguiram, se a sociedade do espetáculo os vem preparando para viver sentados (ou ajoelhados)? Não estavam totalmente seduzidos pelo "fetiche das mercadorias"? Perguntam-se, então, os perplexos: nem futebol resolve mais? Em 1970, resolvia. A pátria de chuteiras (e de farda) não admitia protestos, só aplausos. Impunha "respeito". 
Acalmem-se, senhoras e senhores, é possível que atendida a reivindicação primária - o preço das passagens - os manifestantes voltem para casa. Todas as esferas políticas (dos Municípios à União) estão empenhadas como nunca na diminuição dos centavos possíveis dentro da ordem capitalista, a qual hoje todos servem, admitindo ou não. Por trás deles, os que nos mandam estão dispostos a este pequeno sacrifício em troca do silêncio das ruas. 
Por enquanto, senhoras e senhores, preocupem-se apenas com um detalhe: apesar de termos feito tudo o que fizemos e de não termos feito  tudo o que devíamos, alguns (jovens ou não) não perderam a capacidade de indignar-se. E uma corrente inflamada de indignação é energia que pode ser canalizada para um lado ou para o outro. Aqueles que não pensam senão na continuidade do já estabelecido podem ter dificuldades logo adiante. Mas os que desejam a ruptura com o sistema nublado do capital também. A história continua e os caminhos estão abertos. Saibamos identificá-los.
Maria