quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

O SABER NECESSÁRIO

 Quando o assunto é conhecimento, "formação política", educação popular ou, até mesmo, o ato de estudar em si, logo torna-se perceptível a existência de um consenso discursivo em torno da importância do "saber". Para melhor "fazer", para melhor "poder", para melhor "escolher", para melhor "seguir". Fundamental, indispensável, básico, imprescindível, dizem em coro as mais diversas vozes.
Entretanto, o consenso costuma acabar, quando se vai tratar dos métodos e das concepções, dos conteúdos e dos tempos disponíveis, dos compromissos a assumir e dos obstáculos espalhados no caminho.
Em um tempo como o nosso, marcado pela pressa, pela competição desenfreada, pelo adoecimento dos corpos e das mentes, pela degradação das relações sociais, pela precarização das condições de vida, aquelas e aqueles que persistem na tentativa de abrir caminho em direção a uma sociedade justa, estão assumindo o compromisso político da luta social. E o conhecimento é, com certeza, ferramenta poderosa para que enfrentem o desafio gigante de buscar a transformação da realidade.
Mas, no meio do turbilhão  contemporâneo, QUAL É O CONHECIMENTO NECESSÁRIO?
Dizia Paulo Freire ser "aquele que, entrelaçando teoria e prática, permite chegar à práxis, só ela capaz de nos ensinar a ler... a realidade".
UM CONVITE À REFLEXÃO:
O que precisamos estudar coletivamente para melhor compreender a conjuntura em que estamos mergulhados?
Por onde começar (ou re-começar)  nossa formação política em 2023?
                                                                           
                                                                                                MARIA DO CARMO


                                                         "Somos herdeiros de aprendizados políticos e organizativos dos Movimentos Rebeldes de diferentes tempos e lugares. Não estamos começando nada, apenas seguindo."

                                                                                                PEDAGOGIA DO MST

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

AMANHÃ, 15 DE OUTUBRO

 
Cara(o)  Colega

Amanhã é "nosso" dia. O dia que nos dedicam para tentar esconder os outros trezentos e sessenta e  quatro em que nos desrespeitam, nos exploram, nos tiram o ar de respirar, nos abusam, nos calam de cansaço e de desesperança. E, sobretudo, nos colonizam a consciência. De classe.
Neste tempo em que estamos mergulhados, inegavelmente trágico, já há quem diga, e comemore, que a sociedade não precisa mais das professoras e dos professores. Máquinas robotizadas poderão, em breve, dar conta do recado. Enquanto não chegam, trabalhadoras e trabalhadores sobrecarregados  devem seguir domesticando as gerações que chegam, fazendo-as ajoelhar frente ao deus-mercado. Inquestionável porque deus.
Hoje, em nossa terra, a fome corre solta. A riqueza continua concentrada nas mãos de muito poucos. O adoecimento físico e mental alastra-se. A precarização do trabalho está posta por todo lado. A brutalidade da intolerância com o ser do outro propaga-se como rastilho de pólvora. Mas, segundo os donos do poder econômico e do poder "moral", o maior de todos os problemas somos nós, que "deformamos" criancinhas  Não é brinquedo não. È a realidade.
Atordoadas (os) por esse turbilhão de ataques cotidianos, cambaleamos muitas vezes. Nos recolhemos, nos encolhemos, nos apagamos. Fechamos os olhos e fingimos um encanto que não temos mais. Alguns até pensam que já éramos. Não sabem que ainda somos.
Uma vez por ano nos tiram do borralho e nos levam a dançar. E, cada vez que aceitamos a música, as flores ou os bombons, a festa continua sendo só deles.
Como interromper a queda? Como sair da corda? Como inverter o jogo?  Como mostrar que ainda somos?
Este o conteúdo a aprender e ensinar. Estas as perguntas que precisam ser feitas. Estes os  problemas  a serem solucionados. Este o saber necessário que precisa ser espalhado. Esta a luta a lutar.  Nos espaços que são nossos. A sala de aula, o pátio, o corredor, a rua, a praça pública. 
Amanhã, nosso dia, vem dar tua aula na rua. Traz teu sino para anunciar que chegaste. Vem dizer que é possível uma realidade melhor. Porque já foi. E tu sabes disso . Vem dizer  porque preferes os livros do que as armas. Vem encontrar os estudantes para que eles vejam de que lado estás. Vem gritar o nome do teu voto. Vem abrir espaço para que o futuro exista. Preparar a festa. Nossa.

                                                                                  MARIA


                                                                                                              

domingo, 2 de outubro de 2022

BOM DIA CAMARADAS

Domingo, 2 de outubro de 2022.
O amanhecer bem cinza contrastando com o vermelho que carrego dentro.
Hoje vou ao voto.
Vou porque quero. Vou porque sei.
A lei diz que estou "livre". Por antiguidade.
Pois é livre que vou.
De novo, uma primeira vez.
Agora, a primeira vez da liberdade.
Vou pelos índios.
Vou por Bruno Pereira, irmão deles.
Vou pelos famintos de pão e de ar.
Vou por nós, da humanidade.
Vou, porque há um calor que pelo corpo sobe.
E não vou sozinha.
                                                    Bom dia Camaradas
                                                    AMOR LIVRE SEMPRE!

segunda-feira, 25 de julho de 2022

O IMPENSÁVEL A PENSAR

Lá na esquina histórica de 1964, o povo da luta acreditou de início que o golpe não ia vingar. Afinal, as instituições estavam funcionando. E os "movimentos" estavam organizados. E o povo tinha memória. E as classes dominantes não iam chegar a tanto. E a gente ia resistir. Logo, era impensável que vingasse. Mas vingou. 
Das instituições só sobraram espectros, dos parlamentos aos executivos estaduais e municipais, passando pelo sistema judiciário e culminando com ditadores fardados instalados em Brasília.
Os "movimentos" foram esfacelados. Incendiada a UNE, extintos os grêmios estudantis secundaristas, sob intervenção os sindicatos, presas ou assassinadas lideranças campesinas, cassados e exilados políticos  de oposição, perseguidos, caceteados, torturados e, muitas vezes mortos, todes que se rebelavam.
A memória do povo, sequestrada pelas mentiras oficiais, amplamente propagandeadas pela imprensa, pelas igrejas, pelos colégios e universidades, foi definhar na frente da tela da globo que surgia, onde a história visível era só a das novelas ou a das façanhas da nossa seleção de futebol.
As classes dominantes no país, subservientes ao "grande irmão do norte", nos entregaram por inteiro ao  furor do capital. Foi o modo que escolheram para garantir a continuidade de sua hegemonia interna.
Nossa resistência não bastou. Foi desbaratada e sucumbiu. Como cantou Belchior um dia, " a força veio e fez conosco o mal que a força sempre faz."
O impensável aconteceu.  Levou 21 anos para ir embora.
Em 2016, de novo entre o malho e a bigorna do capital, começamos a testemunhar um avanço reverso da história na direção desse passado extremado, em que era preciso fechar os olhos para seguir adiante e calar a voz para sossegar o medo, ainda que aos ouvidos chegassem os sussurros dos famintos,  dos censurados, dos povos originários, dos favelados, dos comunistas, dos. 
E, de novo, não se pensou no impensável.
Era impensável a concretização do impedimento de Dilma, uma mulher honesta. "Não vai ter golpe!"  era o nosso grito e a nossa crença. Mas concretizou-se.
Era impensável a aprovação das reformas do Temer. A classe trabalhadora ia resistir. "Não passarão!", gritava-se nas ruas. Não o suficiente. Passaram todas.
Era impensável a prisão de Lula. Ele era inocente. E o povo tinha memória. Foram 580 dias de vigília em Curitiba.
Era impensável a eleição da besta-fera. As classes dominantes não chegariam a tanto. Mas chegaram.
No início de 2019, era impensável o grau que a vilania atingiria no desgoverno eleito. Esperava-se mas não tanto. Ela nos assombra a cada dia desde então. Quando acreditamos estar atingindo o ponto máximo da degradação política e social, degradamos mais um pouco. Mesmo com as instituições todas "funcionando".
De novo, a materialização do não-pensável.
Neste 2022, qual impensável nos aguarda atrás da esquina?
A extrema-direita mundial, aqui representada pelo bolsonarismo, não quer a realização das eleições de 2 de outubro no Brasil. Está operando para que não aconteçam. Sabe que precisa impedi-las para continuar no poder político, a serviço da parcela mais abjeta da já abjeta sociedade capitalista. Os ataques cotidianos do presidente da república ao sistema eleitoral fazem parte desta operação. Servem para manter incontidos  os crimes de ódio praticados por seus apoiadores. Abrem caminho ao assalto. Conclamam para a guerra. Enquanto isso, "tenebrosas transações" entre o capital e a caserna vão garantindo o avanço da conspiração nos salões acarpetados.
Sua continuidade no Planalto, rompido de vez o pacto constitucional, representará, sem margem para qualquer dúvida, o aprofundamento da tirania miliciana que hoje assola o país, fardada e não-fardada.. Sustentada por fabricantes de armas, por setores significativos do agronegócio, por mineradoras transnacionais, por exploradores da religiosidade popular, pela avidez do capital financeiro, vai impor nosso silêncio.
Este o impensável na espreita. Talvez seja hora de começar a pensá-lo.
Não para lamentar nas "redes".   
Sim para, nas ruas, impedir que aconteça.


                                                
                                                                     MARIA

























quarta-feira, 23 de março de 2022

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA



"... a responsabilidade de ter olhos, quando muitos os perderam..."   

 José Saramago



Para a maior parte das pessoas, a ideologia que hoje domina nossas vidas é invisível. E essa invisibilidade tem sido a garantia para que atinja seu maior propósito - a ocultação dos reais interesses do capital, como bem a definiu Marx um dia. Afinal, pode haver força maior do que causar e não ser visto como causa?
Responsável pela grande crise financeira global em 2007/2008, pelo crescimento vertiginoso da concentração de renda e pelo recrudescimento da pobreza nas periferias do mundo rico, pela derrocada dos sistemas públicos de saúde, pelo colapso dos ecossistemas, pela regressão dos direitos trabalhistas, pela precarização dos sistemas públicos de educação, pelo culto ao consumo desenfreado, pelo ressurgimento  da direita política e do fascismo social, ainda assim continua querendo mais.
Seguindo em sua rota predatória, avança sobre a democracia representativa, sobre os direitos humanos, sobre o desenvolvimento científico, abrindo espaço para que a barbárie se imponha nas relações sociais. Sem precisar de disfarces, não se limita mais à repressão e à dominação  dos corpos. Está colonizando as mentes e produzindo sujeitos mutilados, porque incapazes de enxergar o caminho que os leva para trás a passos largos.
Estas gentes, pobres gentes, "marchando cegas pelo continente" não percebem o genocídio a que, literalmente, estão sendo submetidas, sacrificadas que são todo dia no altar erguido ao deus-mercado.
Aprender a lutar contra esta realidade, a contribuir para a elevação do nível de consciência política da classe trabalhadora, a desvelar a contradição maior da sociedade capitalista - que é parecer boa mesmo não sendo - exige disposição para formular questionamentos. Não haverá respostas, se não houver perguntas.
"Como se chegou a tal ponto?" talvez seja a questão mais significativa a ser levantada no momento. Quem sabe, um bom ponto de partida para as "atividades de formação" de todes que queiram levar adiante um grande movimento coletivo de alfabetização  do nosso povo.
Alfabetização política, que seja capaz de fazê-lo abrir os olhos.


O Analfabeto Político
" não sabe que da sua ignorância política nasce o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, corrupto, lacaio do capital..."
Bertolt Brecht

                                                                              MARIA








quarta-feira, 16 de março de 2022

O LARGO DA MATRIZ

 Este lugar é uma sala de aula. Aqui se ensina e se aprende o mais importante dos conteúdos escolares, da educação infantil aos cursos universitários - aquele que permite à classe trabalhadora compreender que não basta conhecer a realidade, é preciso lutar para transformá-la. Porque é injusta. Porque nela a ordem que impera é a ordem da humilhação cotidiana das maiorias e o progresso visível é apenas o progresso das minorias privilegiadas, donas do poder econômico.
Sua aula inaugural foi a campanha presidencial de 1989, a primeira depois dos longos anos ditatoriais.    ( Antes, as aulas eram dadas no coreto da Praça Tamandaré ) O objetivo de então era eleger um operário Presidente do Brasil. Quase foi atingido. Mas a  voz do inimigo vinha sempre precedida por um plim-plim. E se impôs. No entanto, as aulas não foram interrompidas. Atravessaram décadas. 
No momento, o povo da educação continua ocupando o Largo da Matriz, na luta pela escola pública. Sabe que educação não é tudo. Tudo é distribuição justa da renda nacional, é reforma agrária e reforma urbana, é orçamento participativo, é devolver ao povo o que do povo foi roubado. Mas sabe também, que se não é tudo, a educação pode ser parte significativa na construção de uma sociedade melhor. Por isso, o ataque feroz que vem sofrendo. Não por seus equívocos ou fragilidades, que ainda são muitos. Sim por suas possibilidades. 
A lição da hora é o reconhecimento de que não pode se levantar sozinho este povo da educação. É preciso que se levante a sociedade inteira: pais e mães, representantes parlamentares, movimentos sociais organizados e desorganizados, senhoras e senhores, meninas e meninos. Não só para defender a educação. Também para defender um projeto de mundo, de país, de estado e de cidade, em que seja possível a existência de uma escola democrática e popular, em todos os níveis.
Talvez um primeiro passo em direção a esse reconhecimento possa ser dado olhando a igreja. Não para admirar a longevidade dela, mas para saudar respeitosamente os trabalhadores escravizados que um dia a construíram. Afinal, são eles os pioneiros da luta que hoje levamos adiante.
Que atravesse os séculos o nosso aplauso.

                                                                                                                                         MARIA

quarta-feira, 2 de março de 2022

Tempo de Guerra

     " Se você não conhece as causas profundas do conflito, paz é  uma palavra de ordem  vazia. "                   DILMA ROUSSEFF    


A partir de 2010, uma onda de protestos emergiu no mundo árabe, iniciando na Tunísia e espalhando-se pela Argélia, Jordânia, Egito e Iêmen. Ficou conhecida como Primavera Árabe. Foi responsável pela queda de diversos governantes. Depois dela, outros protestos com características semelhantes foram explodindo pelo mundo - na Europa Central e do Leste ( Ucrânia em 2014 ), na América Latina ( Brasil em 2013 ) e na Ásia ( Hong Kong em 2019 ).
Inúmeras ONGS, grandes veículos de comunicação e variadas vozes da academia ( inclusive algumas identificadas com um pensamento  dito de esquerda ) não cansaram de louvar as manifestações "populares". Foi estabelecido um novo senso comum: os povos queriam liberdade e não suportavam mais as práticas corruptas dos administradores públicos. Por todos os lados era enaltecida a ausência de partidos políticos nos atos, a defesa genérica que faziam da democracia e do combate à corrupção. Louvou-se muito também a "espontaneidade" dos movimentos e a "excelência" das plataformas tecnológicas que permitiam, como nunca, a mobilização célere e eficaz de grandes massas populacionais.
Os EUA, governado então por Barack Obama ( com Biden de vice ), autodenominando-se " a maior democracia do mundo", manifestou seu encantamento com a conscientização inesperada das multidões que, apesar de quaisquer "ontens" começavam o milênio bradando contra os corruptos e os tiranos.
No calor da hora, poucos perceberam que os governantes depostos nessa guerra híbrida representavam uma oposição, ainda que incipiente, às pretensões imperialistas dos norte-americanos. E, até onde não foi possível efetivar realmente o golpe "brando", as consequências foram gigantescamente desastrosas para a classe trabalhadora. Perdeu-se de vez o tal "bem-estar social" nos lugares em que chegou a existir e a possibilidade de atingi-lo nos lugares em que nunca tinha chegado.
No entanto, para seguir em frente com seu projeto imperialista unipolar, não bastava ao grande capital, comandado por Washington e servido pela vassalagem da OTAN, fragilizar as forças opositoras periféricas. Era preciso sufocar os outros "grandes", que ousavam sugerir uma multipolaridade econômica e política para o Planeta Terra. Para quem, desde  "a queda do muro" em 1989, sentia-se dono do mundo, isso não era admissível.  
Por inúmeros fatores, entre os quais  cabe destacar sua localização eurasiana, seu dinamismo econômico e a simbologia que lhe é reservada na historia da luta entre as classes, a Rússia tornou-se o primeiro alvo a ser atingido. Arrancar de sua área de influência países como a Ucrânia, a Armênia, a Turquia, a Síria, a Macedônia, entre outros da vizinhança, cooptando-os para que participem do bloco armado liderado pelos EUA, foi o objetivo estabelecido para o atual período.
Assim, a guerra na Ucrânia não começou agora. E, apesar da narrativa predominante na imprensa ocidental, que responsabiliza o governo de Moscou pelo conflito armado, quem fechou as portas para uma solução diplomática foram os membros da OTAN tutelados pelo " grande irmão". A proposta inicialmente apresentada pelos russos era puramente defensiva e bastante razoável: o estabelecimento de uma zona neutra entre o território da Federação Russa e o território abrangido pelo Tratado do Atlântico Norte.
Por isso, todo apoio ao povo russo.
Abaixo o imperialismo.
Abaixo  o fascismo do Ocidente.
Abaixo a hipocrisia do opressor, de todos nós.
 
                                                                                            MARIA