quarta-feira, 21 de julho de 2021

LIBERDADE PARA OS PASSARINHOS

Num mundo marcado pela "naturalização" da precariedade - do trabalho, da moradia, do transporte coletivo de massas, da acessibilidade aos diferentes espaços do existir - chega-se facilmente à precarização do dia, à precarização da vida. Não de todos, mas das maiorias.

A aparência de normalidade das perversas desigualdades nas condições de vida dos que "habitam" uma  mesma cidade tem levado a uma acomodação nos comportamentos, a uma anestesia das vontades, como se não pudesse ser diferente. Mas pode.

Longe de significar apenas "o asfalto da rua" ou  "o preço da passagem", falar sobre mobilidade urbana significa denunciar que a segregação social é a razão que define, no tempo e no espaço da cidade, para quem a vida pode ou não pode ser boa.

Habitar quer dizer como se dorme, como se anda, como se respira, como se alimenta, como se está no mundo. Nas sociedades capitalistas, é a condição geográfica de classe.

Mobilidade urbana não é uma questão  "de gestão". È uma questão política. Trata-se do combate à especulação imobiliária, à privatização dos espaços públicos, à exploração econômica do transporte coletivo, à seletividade do saneamento básico e à muito mais. Mas, sobretudo, trata-se de combate ao modo de vida capitalista e de enfrentamento aos projetos da classe dominante, que organiza a vida urbana de acordo com seus próprios interesses.

Quando o tempo histórico não significar mais a tirania da exploração de classe, quando um dia , enfim, o capital for vencido, se um dia for, talvez a cidade possa ser então um espaço garantidor da dignidade humana e não o seu contrário, como tem sido até aqui.

Mergulhados na barbárie deste XXI, temos uma longa jornada a nos desafiar. Nosso grande PAULO FREIRE, que afirmava a alfabetização como "a capacidade de ler a realidade" e não como uma simples decifração de códigos linguísticos, nos oferece, entrelinhas, uma lanterna para iluminar o caminho: a necessidade de uma alfabetização urbanística, porque ninguém transforma o que desconhece.

"Que CONSTRUIR PARA HABITAR  seja o nosso lema, porque a cidade que queremos está ainda por ser construída. Pode ser que nela, inclusive, as gaiolas sejam abertas e todos os passarinhos tenham, finalmente, garantido o seu direito de ir e vir livremente.

                                                                                     MARIA