A Carta da Confederação Nacional dos Trabalhadores ( e Trabalhadoras ) em Educação (CNTE), dirigida à sociedade brasileira às vésperas das eleições municipais de 2024, conclamando, em especial, as comunidades escolares para que votem somente em candidatas e candidatos comprometidos com as pautas da Escola Pública, de certa forma rabisca, nas entrelinhas, o perfil de candidaturas e mandatos que representam os interesses da classe trabalhadora. Porque é a classe trabalhadora que frequenta a Escola Pública, sendo ainda exceção apenas o Ensino Superior.
No entanto, para que cada um dos pontos priorizados pela Confederação seja transformado em objetivo atingido, outras lutas terão que ser lutadas. Nos Parlamentos e nas Ruas. Porque colégios não são ilhas da fantasia. E são perpassados, disfarçadamente ou não, por todos os conflitos sociais existentes em cada tempo histórico. Assim, para transformar a escola, é preciso, paralelamente, ir lutando para transformar o mundo. Isto a Carta não disse. Poderia ter dito.
Não se fala abertamente em conjuntura na Carta. Mas quem prestar atenção, vai perceber nela alguns sinais conjunturais da atualidade. Pois se está dito "ser preciso" defender uma Escola Pública desmilitarizada, laica e democrática, fica implícito que a realidade aponta para o inverso disso.
Invertendo, um por um, todos os princípios elencados no texto. estará descrita significativa parcela da conjuntura educacional brasileira hoje.
A "variante" do sistema do capital que hoje domina o mundo, este liberalismo que chamam de novo quando é apenas mais, destinou à escola pública, e a todas as "mídias" e "redes", a tarefa de acentuar a colonização das mentes enquanto se dedicava à recolonização dos corpos, ambas fundamentais para a consolidação e permanência do projeto globalizado que defende na esfera econômica.
Para efetivar o "plano", muitos foram os instrumentos utilizados. O fundamentalismo religioso disseminado nas famílias para que exigissem da escola o reacionarismo social que faz do diferente um inimigo, o fim das carreiras de servidoras e servidores do campo educacional, a precarização das condições físicas das escolas, o arrocho salarial, a censura a livros e manifestações artísticas, o tiro de quase morte nos movimentos estudantil e sindical, entre tantos outros.
Contudo, o mais danoso, porque infinitamente mais duradouro, está constituído pelas alterações curriculares advindas de leis espúrias, que continuam inviabilizando projetos político-pedagógicos insurgentes, que preparem não para servir ao "mercado" mas para combatê-lo. Que digam aos estudantes que eles não são empresários de si mesmos. Que não ensinem empreendedorismo, ensinem cooperativismo.
Difícil conjuntura esta do XXI. Realidade brutalizada, em todos os cantos do mundo.
Todavia, como dizia Paulo Freire, a realidade só é até que... eu interfira nela. Para fazer junto e diferente...
MARIA