quarta-feira, 28 de agosto de 2024

A ESCOLA PÚBLICA E OS DESAFIOS DA CONJUNTURA

 "Quem abriu estas comportas?
    .....
   E o meu povo sem colete,
   Enquanto a água vai levando...."
   Márcio Faraco, em "Um pingo no telhado"


A Carta da Confederação Nacional dos Trabalhadores ( e Trabalhadoras ) em Educação (CNTE), dirigida à sociedade brasileira às vésperas das eleições municipais de 2024, conclamando, em especial, as comunidades escolares para que votem somente em candidatas e candidatos comprometidos com as pautas da Escola Pública, de certa forma rabisca, nas entrelinhas, o perfil de candidaturas e mandatos que representam os interesses da classe trabalhadora. Porque é a classe trabalhadora que frequenta a Escola Pública, sendo ainda exceção apenas o Ensino Superior.

No entanto, para que cada um dos pontos priorizados pela Confederação seja transformado em objetivo atingido, outras lutas  terão que ser lutadas. Nos Parlamentos e nas Ruas. Porque colégios não são ilhas da fantasia. E são perpassados, disfarçadamente ou não, por todos os conflitos sociais existentes em cada tempo histórico. Assim, para transformar a escola, é preciso, paralelamente, ir lutando para transformar o mundo. Isto a Carta não disse. Poderia ter dito.

Não se fala abertamente em conjuntura na Carta. Mas quem prestar atenção, vai perceber nela alguns sinais conjunturais da atualidade. Pois se está dito "ser preciso" defender uma  Escola Pública desmilitarizada, laica e democrática, fica implícito que a realidade aponta para o inverso disso.

Invertendo, um por um, todos os princípios elencados no texto. estará descrita significativa parcela da conjuntura educacional brasileira hoje. 

A "variante" do sistema do capital que hoje domina o mundo, este liberalismo que chamam de novo quando é apenas mais, destinou à escola pública, e a todas as "mídias" e "redes", a tarefa de acentuar a colonização das mentes enquanto se dedicava à recolonização dos corpos,  ambas fundamentais para a consolidação e permanência do projeto globalizado que defende na esfera econômica.

Para efetivar o "plano", muitos foram  os instrumentos utilizados. O fundamentalismo religioso disseminado nas famílias para que exigissem da escola o reacionarismo social que faz do diferente um inimigo,  o fim das carreiras de servidoras e servidores do campo educacional, a precarização das condições físicas das escolas, o arrocho salarial, a censura a livros e manifestações artísticas, o tiro de quase morte nos movimentos estudantil e sindical, entre tantos outros.

Contudo, o mais danoso, porque infinitamente mais duradouro, está constituído pelas alterações curriculares advindas de leis espúrias, que continuam inviabilizando projetos político-pedagógicos insurgentes, que  preparem não para servir ao "mercado"  mas para combatê-lo. Que digam aos estudantes que eles não são empresários de si mesmos. Que não ensinem  empreendedorismo, ensinem cooperativismo.

Difícil conjuntura esta do XXI. Realidade brutalizada, em todos os cantos do mundo.

Todavia, como dizia Paulo Freire, a realidade só é até que... eu interfira nela. Para fazer junto e diferente...


                                                                                             MARIA





sexta-feira, 9 de agosto de 2024

O COMPROMISSO QUE IMPORTA




"... ...
Em vão percorremos volumes,
viajamos e nos colorimos.
A hora desperdiçada
esmigalha-se no chão da rua
... ...
Porque as leis não bastam,
os lírios não nascem da lei.
Meu nome é tumulto.
E escreve-se na pedra."
                 Carlos Drummond de Andrade



Há quem diga que não será com votos que a humanidade vai se libertar do capitalismo. Talvez com razão. Entretanto, nesta hora partida que nos coube viver, é o voto o instrumento que temos para resistir ao capital. As "condições objetivas" para que uma Revolução Social possa acontecer, hoje, não estão postas. Votemos, pois. Mas atenção nesse votar.
Que nossos votos não se esmigalhem no chão da rua, como as horas perdidas do Drummond. Que eles sejam sementes de mandatos capazes de representar a luta anticapitalista. Tratando por este ângulo cada questão local. E indo além... De peito aberto, com coerência entre discurso e prática.
Mandatos que sejam contraponto à ordem estabelecida há 500 anos nestas terras - a ordem dos pés calçados pisando nos pés descalços.
Mandatos andarilhos que não se restrinjam à política dos gabinetes. Também deixem rastros nas calçadas.
Mandatos que levem para o espaço institucional o tumulto dos que têm fome. De pão e de justiça.
Mandatos que honrem a vida, honrando a luta. Porque este é o compromisso que importa. E precisa ficar registrado. Nas pedras e nas urnas.
Ao voto, então!
                                                                                                                             MARIA
 

sábado, 3 de agosto de 2024

QUANDO COMEÇA A REVOLUÇÂO?

 

"Como se não fosse um tempo

 em que já fosse impróprio

 se dançar assim"

Bandolins, Oswaldo Montenegro


Quando começa a Revolução?
Alguém que saiba, por favor, levante a mão.
Não são revolucionários os tempos de agora , é o que responde a voz corrente
Mas quem deixou os tempos  serem não-revolucionários? é o que perguntava a inquietude um  dia desses.
Alguém que saiba, por favor, levante a mão.
O projeto revolucionário de mudar o mundo, quando foi deixado numa esquina?
Não querem mais mudar o mundo as gentes de agora , responde de novo a voz corrente.
Mas o que deixou as gentes assim, não-revolucionárias? pergunta outra vez a inquietude.
Alguém que saiba, por favor, levante a mão.
No tempo de antes, o tema dominante era a vontade apaixonada de construir um  mundo novo.
Hoje se luta, quando se luta, só para gerenciar o mundo velho.
Onde foi parar a rebeldia? 
Alguém que saiba, por favor, levante a mão.
Frente ao descalabro mundial do tempo presente, o objetivo dos movimentos sociais e das organizações de esquerda, no mundo inteiro, deveria ser  transformar o poder político e não apenas conquistá-lo momentaneamente nos moldes tradicionais da sociedade burguesa.
Como atingi-lo?
Alguém que saiba, por favor, levante a mão

                                                                                                  MARIA

                                                                                      
"Ressuscita-me.....
para que eu possa amar
o que faltou amar

Ressuscita-me....
nem que seja só por isso"

O amor, Maiakovski
( continuado por Caetano,
cantado por Gal)