quinta-feira, 20 de junho de 2013

O que querem os que estão na rua?

Nos últimos dias, esta é a pergunta corrente entre os que mandam, os que obedecem, os dirigentes, os dirigidos, os trabalhadores e os patrões, nesta terra e neste tempo. Múltiplas são as hipóteses levantadas, multiplicando indefinidamente a pergunta inicial.
Querem melhor transporte coletivo ou só passagens mais baratas? Talvez queiram o tempo que lhes foi roubado pela "imobilidade" urbana contemporânea. Sendo na maioria jovens, querem então o que não conhecem? Marcham sob chavões populistas, como "saúde-educação", ou pela partilha justa do espaço e da riqueza da cidade, só ela capaz de oferecer a todos mais saúde e melhor educação? Levantam-se contra a opressão das maiorias, aqui existente desde o século XVI, ou por questões pontuais do sistema capitalista? Servem à situação política ou às oposições, de esquerda ou de direita? São questões ainda sem respostas para os comentaristas de plantão, mas que não esgotam as perspectivas de análise deste "grito de alerta".
A causa mais forte da perplexidade reinante não  é o desconhecimento dos motivos - motivos não faltam, e de todos os matizes ideológicos. Podem ser até mesmo a simples "novidade" do encontro ou a possibilidade de "quebrar", ao abrigo de um coletivo. O que desconcerta o senso comum é um ponto claro e objetivo: como conseguiram? 
Como conseguiram, o que os "velhos" movimentos não conseguem mais? Não estavam transformados em "homo resignatus"? Como conseguiram, se a sociedade do espetáculo os vem preparando para viver sentados (ou ajoelhados)? Não estavam totalmente seduzidos pelo "fetiche das mercadorias"? Perguntam-se, então, os perplexos: nem futebol resolve mais? Em 1970, resolvia. A pátria de chuteiras (e de farda) não admitia protestos, só aplausos. Impunha "respeito". 
Acalmem-se, senhoras e senhores, é possível que atendida a reivindicação primária - o preço das passagens - os manifestantes voltem para casa. Todas as esferas políticas (dos Municípios à União) estão empenhadas como nunca na diminuição dos centavos possíveis dentro da ordem capitalista, a qual hoje todos servem, admitindo ou não. Por trás deles, os que nos mandam estão dispostos a este pequeno sacrifício em troca do silêncio das ruas. 
Por enquanto, senhoras e senhores, preocupem-se apenas com um detalhe: apesar de termos feito tudo o que fizemos e de não termos feito  tudo o que devíamos, alguns (jovens ou não) não perderam a capacidade de indignar-se. E uma corrente inflamada de indignação é energia que pode ser canalizada para um lado ou para o outro. Aqueles que não pensam senão na continuidade do já estabelecido podem ter dificuldades logo adiante. Mas os que desejam a ruptura com o sistema nublado do capital também. A história continua e os caminhos estão abertos. Saibamos identificá-los.
Maria

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