quinta-feira, 10 de março de 2016

A LIÇÃO DE FRANCISCO, O PAPA DO SÉCULO XXI

As irregularidades e anormalidades que envolveram o ato de "condução coercitiva" do ex-presidente do Brasil -Luiz Inácio Lula da Silva- para "depor" numa sala do aeroporto de Congonhas (SP) na sexta-feira, 4 de março, foram tantas, tão variadas e de tal complexidade jurídica, que obscureceram e contaminaram a proclamada proposta de combate à corrupção em curso na autodenominada Operação Lava-Jato, empreendida pelo Ministério Público Federal.
Pela palavra dos mais eminentes juristas do país e do mundo, de todos os matizes ideológicos, é possível concluir que, de tal ato, o que sobrou foi a certeza do cometimento de uma fragorosa injustiça pelos "agentes da lei". Por ele, a Polícia Federal, os membros do Ministério Público e o juiz de Curitiba igualaram-se aos "fora da lei" que afirmam combater. Uma corte de justiça, para que seja respeitável, não pode, ela mesma, permitir-se ultrapassar os limites constitucionais.
As objeções contra a midiática empreitada comandada por Sérgio Moro, levantadas por dois ex-ministros da justiça de Fernando Henrique Cardoso (José Carlos Dias e José Gregori), por um ministro do Supremo Tribunal Federal (Marco Aurélio de Mello, indicado por FHC), por um brilhante especialista em Direito Constitucional e procurador de justiça aposentado (Lenio Streck), pela OAB e por muitos outros doutores em leis, foram acompanhadas por manifestações populares vindas de todos os cantos do Brasil e da América (inclusive dos EUA). Gente que, mesmo sem entender de leis, pauta a vida pelo canto do poeta: "Eu só peço a Deus que a injustiça não me seja indiferente..."
Não faltaram, também, vozes de apoio aos "rapazes da Federal" e de repúdio e descrédito a Luiz Inácio. Faz parte. É da condição humana a pluralidade de pensamento e o respeito a esta pluralidade. Cada qual com seus motivos, circunstâncias e fontes de informação. Inaceitável é, apenas, a incitação à violência entre seres humanos. Venha de onde vier. Por conta disso, pode ser considerado criminosamente irresponsável o discurso de um padre católico (durante a missa) pedindo aos "irmãos e irmãs" que "esmagassem a cabeça da serpente, especialmente a que chama a si mesma de jararaca", numa alusão explícita à fala de Lula em rede nacional de televisão após o interrogatório.
Considerando-se a gigantesca repercussão de todo o feito e dito nos últimos dias, aparentemente a maior lição a ser aprendida pelos brasileiros com o ocorrido é a de que em um Estado Democrático de Direito ninguém deve estar acima da lei. Nem mesmo a Justiça, pois caso isso aconteça as consequências podem ser imprevisíveis. Ou, como popularmente se afirma, o tiro pode sair pela culatra.
Sem dúvida, importantíssima lição. Todavia há outra, maior ainda. Ela nos vem de longe, da velha cidade de Roma. Quem a dá é Francisco, um papa "como nunca antes...", um mestre do século XXI.
Sem alarde, sem constrangimento público ao advertido, ele calou o padre que estimulava a violência, pedia sangue derramado e manipulava o texto bíblico. Afastou-o dos fiéis, transferindo-o para outra diocese, bem menor e sem nenhuma visibilidade midiática. Transformou uma singela ação administrativa em importante ato a favor da paz e da vida - "Eu vim para que a tenham em abundância". Francisco sabe e ensina o valor da paz para a preservação da vida. Francisco sabe e ensina  o valor da vida para a preservação  da paz.
Respeito é bom e faz falta, Dr. Moro. Para a vida e para a paz. 

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