quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

OS LANCEIROS NEGROS

 

"SABER É O PRIMEIRO PASSO EM DIREÇÃO AO COMBATE"
                                     PALAVRAS NA CERCA   


LULA sancionou, no último dia 5 de janeiro, a LEI 14.795/24, proposta pelo Senador Paulo Paim, que inscreve "os lanceiros negros do RS" no "Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria", como parte de uma reparação  histórica bem mais abrangente do que uma simples homenagem àqueles soldados que lutavam bravamente por sua própria liberdade, traídos e assassinados pelo conluio entre o império do Brasil e a classe dominante sul-rio-grandense, lá nos idos de 1845. Vai além, porque também traz, nas entrelinhas, o reconhecimento oficial do Estado do Brasil à contribuição basilar de negras e negros na construção da sociedade brasileira. E ainda chama a atenção para o racismo estrutural que nublou por muito tempo a produção historiográfica do RS. E, eventualmente , permanece por aí.
Na maior parte das vezes, a grande rebelião de 1835 foi, e continua sendo, chamada de Revolução Farroupilha. Mas Revolução não foi. Porque Revolução é um Movimento que tem por objetivo subverter a ordem sócio-econômica estabelecida. E os latifundiários do Rio Grande do Sul não queriam subverter a "ordem" instalada nestas plagas. Não queriam dividir a terra, não queriam o final da escravidão, nem devolver o gado chimarrão aos guaranis, nem abrir mão de quaisquer privilégios de classe. Só queriam garantir direitos que consideravam "seus" e não estavam sendo respeitados pelo poder imperial.
O mais comum dos tropeços historiográficos cometidos por aqui é, sem dúvida, a não inserção da "guerra dos farrapos" no processo mais amplo que foi a chegada do liberalismo ao Brasil, no alvorecer do XIX. O que leva, consequentemente, ao "esquecimento" de que, naquele mesmo período, explodiram rebeliões semelhantes  no  país inteiro, todas fruto da insatisfação das camadas economicamente dominantes nas províncias brasileiras. Uma defesa intransigente do Federalismo pelo inconformismo geral dos "proprietários" com o protecionismo dado ao cafeeiros do Sudeste pelo governo central. Seguindo os ventos soprados, já na época, pelo grande "irmão" do Norte.  Foram todas vencidas pelo Império. Faltou-lhes gente para o combate. Porque não ousaram colocar armas nas mãos dos contingentes escravizados. Podiam ser viradas contra eles. Preferiram acordos costurados nos gabinetes aos riscos de uma revolução social. Na chamada  República de Piratini parecia diferente. Os trabalhadores escravizados foram chamados à luta, a "palavra de honra" dos caudilhos sulistas assegurava liberdade no fim do caminho, para quem sobrevivesse. Na hora final, no entanto, bem sabemos de Porongos.
A manipulação da história é instrumento de dominação  bem conhecido e tem sido utilizada desde os primórdios da sociedade dividida em classes. Fazer o contraponto, divulgando  a história real - porque devem ser chamados de heróis os negros entregues por  Canabarro à sanha de Caxias ou porque o 20 de novembro deve mesmo ser  feriado nacional , por exemplo, - é compromisso de todas, todes e todos que lutam por uma sociedade justa. COMUNISTA.
                                                                                             
                                                                                   MARIA


Um comentário:

  1. Maravilhoso o texto, reconhecimento aos negros escravizados e estimulados a luta em troca da liberdade que não ocorreu.

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