Bolsonaro se recusa a sair de cena, como diz a jornalista Denise Assis integrante da Comissão Estadual da Verdade/RJ em sua coluna no Brasil247 (23/06/25). Acontece que a "cena", composta pelas "redes", mais as mídias remanescentes do século XX, mais os partidos de direita, também não o manda embora, teimando em reproduzir e ampliar sua palpitagem cotidiana sobre a política brasileira e mundial por considerá-lo ainda significativo indutor de votos para 2026, mesmo sabendo que seu nome não estará na urna. Qual o verdadeiro objetivo desta "encenação" toda? Da direita coletivamente e de Bolsonaro individualmente?
"Dê-me 50% por cento da Câmara e 50% do Senado que eu mudo o destino do Brasil" - Jair Bolsonaro
( postado na última semana de junho )
Ainda que sabendo de sua realidade jurídica, o inelegível segue em frente na luta pela permanência, "atrapalhando" a busca por uma democracia, mesmo apenas liberal. Continua golpeando, não só planejando golpes. Desempenhando o papel que lhe foi destinado pelo poder econômico civil que impera no país e fala pelos microfones da rede globo e similares. Sendo assim, o que importa hoje é reconhecer e denunciar o golpismo civil que sobrevive na sociedade brasileira e não pode mais apelar aos quartéis como sempre fez porque Bolsonaro acabou com os quartéis. Expôs sem véus toda a degradação, covardia e mediocridade dos generais e almirantes do mar e do ar, das "forças" armadas em geral. Descortinado está que queriam, mas não conseguiram, quando tentaram escondidos atrás de uma massa de manés.
Assim, é com o golpismo civil, sem a fantasia de soldado, que as organizações de esquerda precisam se ocupar agora. Se quiserem uma outra política, capaz de transformar efetivamente a realidade, não apenas reconstruí-la nos moldes de antes. Ou até só manter o pouco que se tem em termos de políticas públicas distributivas.
O foco precisa ser o Congresso Nacional. A escória aqui dominante há 500 anos quer em 2026 50% de Senadores e Deputados Federais de extrema direita. Mantém Bolsonaro "em cena" como besta-fera-propaganda para alcançar tal objetivo. Tendo em vista o Parlamento que já temos, parece mera manutenção. Mas não é. É um percentual que não permitirá mais negociação alguma, podendo, inclusive, aprovar uma anistia ampla a todos os golpistas. Sem obstáculos, poderá também garantir a continuidade da ordem economicamente opressora de forma contundente por um longo tempo à frente. Mas acentuada, acelerando a precarização da vida.
No interior do PT, confirmada em 6 de julho, tem sido vitoriosa a tese que defende a não-polarização política, a moderação institucional, a conciliação com o inimigo de classe, a vastidão sem profundidade do aliancismo eleitoral. Tese esta abraçada com afinco nestes dois anos e meio pelo governo LULA III. Sem que, no entanto, tenha conseguido sair do sítio.
Contudo, inesperadamente, parece que o vento está mudando, forçado pela conjuntura. A derrota acachapante sofrida no Congresso Nacional com o decreto do IOF acendeu a luz vermelha. Literalmente.
Nas "redes", viralizou o "nós contra eles". Nas ruas, gente chegando aos poucos. O MTST ocupando a agência central de um grande banco. Atos contra a jornada 6x1 começando a acontecer. Em São Paulo, milhares ocupando a avenida para protestar. A votação no Plebiscito Popular ganhando fôlego em muitos espaços. E até o nosso Presidente, desfilando em carro aberto, levantando bem alto um cartaz que clamava por justiça tributária. Puxando a multidão.
A tão temida, contida, censurada, polarização começando afinal a acontecer.
Vai vingar? Ou logo será guardada na caixinha da memória outra vez?
Será aproveitada para tentar interromper o golpe civil em curso?
Ou será desperdiçada, como em 2013, quando, tontos, deixamos o capital se apropriar daquela inflamada corrente de indignação?
Compreenderá o novo presidente do PT que, embora não querendo, será preciso polarizar? Talvez a carta vinda do Império o ajude a encontrar o caminho da luta necessária.
Quanto a Bolsonaro, o que ele quer é simplesmente a impunidade. Quer indulto pelos crimes cometidos como forma de pagamento à continência que bate à bandeira dos Estados Unidos.
Vai conseguir?
MARIA