domingo, 7 de junho de 2020

POR QUE LULA DISSE NÃO?


                                      "Se a Globo apoia, sou contra."
                                        Leonel de Moura Brizola

Tem sido assim faz séculos. Quando os privilegiados sociais percebem perigo na esquina, lembram-se que estamos juntos no meio da quadra. E a esquina está muito próxima. Então, apelos por unidade se agigantam:
"Vem conosco, vem Geni.
  Você pode nos salvar,
  Você vai nos redimir."
No Brasil de 2020, há bem mais do que um perigo na esquina.Em meio à tempestade pandêmica que assola o planeta, vive-se aqui a consequência macabra  de um projeto político imposto ao país pelo GOLPE contra a Presidenta Dilma Rousseff em 2016. É disso que se trata.
Enquanto os atingidos pela traição secular  das elites eram apenas a classe trabalhadora e os "petralhas", os "democratas" se mantiveram calados - afinal, as "instituições estavam funcionando", o povo tinha "escolhido" nas urnas o novo presidente e as reformas  eram nossa "ponte" para o futuro. Sérgio Moro era herói nacional e "LULA LADRÃO" estava preso pelo crime imperdoável de ter feito o melhor governo da história da República.
Foi preciso 2020 chegar, trazendo consigo a barbárie, para que rompessem o silêncio. Começam, então, os Manifestos. Por enquanto, restritos às redes.
Um, entre todos, gerou alvoroço. Não pela ausência nele do conteúdo que realmente importa, não pelo vício de origem de ter sido redigido numa sala atapetada, não por exigir somente o óbvio dever das autoridades constituídas, não por ter ignorado que sozinha a palavra democracia não significa nada, precisa de um complemento para ganhar sentido.
 A alteração dos ânimos se deu por conta de um não. Não de um não qualquer. Um não capaz de fazer balançar a unanimidade forjada. Um não que expõe a contradição nas entrelinhas. Um não de Luis Inácio.
                     Por que não "grande líder",
                     se tanta gente boa está assinando embaixo?
A resposta de Lula, tão falador, desta vez veio muito curta. E direta:
"Estou dizendo pra gente não pegar o primeiro ônibus. Estão querendo reeducar o Bolsonaro, mas não falam em reeducar o Guedes. O editorial do Globo, que apoia o Manifesto, é uma proposta de acordo para salvar o GOLPE."
Talvez porque, na ânsia de cativar apoiadores e justificar a si mesmos, os redatores do "Estamos Juntos" lembraram a luta pelas "Diretas Já" como exemplo a ser seguido. E Lula sabe que a história tem se repetido. 
Nas jornadas de 1984, "fomos juntos" em busca de uma democracia perdida vinte anos antes. O prolongado "mal-estar na cultura" tinha trazido a classe média para o campo de oposição à ditadura. A necessidade estabelecida naquela hora abafou por um tempo os preconceitos de classe, de etnia e de gênero, alicerces fundadores da sociedade brasileira. O movimento das ruas não atingiu seu objetivo imediato. A "Emenda das Diretas" não foi aprovada no Congresso, mas ele foi o passo que faltava para liquidar o regime militar implantado em 1964. Nele, o protagonismo da classe trabalhadora foi fundamental.
Terminado o arbítrio, na primeira eleição direta para a presidência da República depois de 1960, veio de novo o antigo embuste dos "privilegiados". Na forma de um golpe midiático, chutaram a Geni.E Fernando Collor de Mello chegou como porta-voz dos "democratas" para impor ao país o novíssimo projeto do capitalismo internacional.
Nas jornadas virtuais de 2020,em nome de uma suposta pacificação nacional, de uma volta ao normal de "antes", deixa-se para um segundo momento, como sempre, as lutas pelos direitos surrupiados às trabalhadoras e trabalhadores, pela reversão da entrega do patrimônio público à iniciativa privada, pelo fim da iniquidade social. O que não é um bom sinal. Faz crescer a possibilidade de uma cilada logo adiante. 
Talvez por isso, LULA DISSE NÃO.


                                                                                                  MARIA

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