segunda-feira, 8 de setembro de 2025

CÁLICE

 

"Pai, afasta de mim esse Cálice, 
de vinho tinto de sangue"
Chico e Gil,1973




Não há tentativa de golpe no Brasil. Há um golpe em andamento. Desde 2016. Em etapas. Primeiro impediram Dilma, com o Supremo, com tudo. E um Congresso, o do tchau querida, que parecia "o mais canalha". Então começaram a atravessar "a ponte para o futuro", com Temer comandando a destruição dos direitos trabalhistas conquistados com suor e sangue ao longo do século XX e, de quebra, levaram junto a escola pública, com a destruição do ensino médio e o florescimento dos colégios cívico-militares. 
Depois prenderam  Lula, num processo comandado pela CIA, tendo a Lava Jato e o Supremo como "os instrumentos da hora". Para colocar na presidência da república alguém capaz de destruir o país, alimentando a chama ressurgida do fascismo social. E eleger um Congresso "ainda mais canalha". Além de corroer por dentro todas as instituições ditas democráticas.
A destruição foi tanta que as próprias escórias dominantes facilitaram, com o Supremo tirando o pé, a volta de Lula em 2022, mas ali-ali. Com a rédea curta de um Congresso ainda pior que "o mais canalha" anterior. E a besta-fera solta. Veio o dezembro incendiário, as estradas atravancadas pelos caminhões e os acampamentos nos quartéis.
E o 08 de janeiro. Que, para nossa "salvação", destruiu o relógio de D. João e a cadeira do Moraes. Maus modos que nem a burguesia cheirosa suportou. Estava "criado o clima" para acabar nos tribunais, mas não encerrou o golpe. São inúmeras as evidências. A maior de todas é a luta pela anistia dos participantes, dos organizadores e dos mentores do "já feito". Para que possam continuar fazendo. 
Anistiar golpistas significa abrir ainda mais as portas da política nacional para o capitalismo neoliberal e, em especial, para o imperialismo norte-americano.
Apesar de tudo isso, setembro de 2025 começou marcado por uma ofensiva bolsonarista que empurrou LULA III outra vez para as cordas. O que se viu, continuando agosto, foi o levante no Congresso ganhar força com Tarcísio à frente, as "redes" dominadas amplamente pela direita e Lula, lúcido, pedindo um socorro que não veio.
O 07 de Setembro "do grito pela soberania" mostrou apenas a fragilidade ou a omissão das direções partidárias de esquerda, dos sindicatos e dos movimentos populares Brasil a dentro. Parece que a maioria tinha algo mais importante a fazer do que lutar no chão da rua, onde deviam estar mas não estiveram. 
No final do dia, o resultado foi mais um fracasso da luta pela vida. Porque é da vida que se trata. Dos excluídos, precarizados, adoecidos, usados e abusados pelo projeto de poder hoje hegemônico.
Em São Paulo, cidade emblemática, enquanto os que "gritavam" por tais vidas não chegaram a dez mil, o fascismo levava à avenida mais de quarenta mil cabeças de gado cobertas por uma gigantesca bandeira do império do capital. E foi assim em todo o país, não há como negar.
Mais dia menos dia, condenado o inominável no Tribunal "Superior", o que vai acontecer? Os navios da IV Esquadra vão deixar o litoral da Venezuela e atracar no Paranoá? As brigadas comandadas por Silas Malafaia vão fechar os "antros de perdição comunistas"? O agropop vai acelerar a morte das florestas e dos pampas? A vida boa dos que têm vida boa vai continuar igual enquanto a vida difícil dos que têm vida difícil vai ficar cada vez mais difícil?
Pensando nisso, o que há mesmo para  ser comemorado neste setembro estrelado pela bandeira do opressor ?
Por favor, alguém responda...

                                                                                            MARIA

2 comentários:

  1. Cirúrgica, como sempre! Parabéns companheira, pelo ótimo texto! 💜🇧🇷

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  2. Comemoramos a vida, ainda que difícil, porque #ESSALUTAÉNOSSA

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