terça-feira, 12 de março de 2013

O 13 de Março de 1964 e o palavrão contemporâneo

Sabemos que entre as marcas de um tempo histórico está a linguagem que lhe é própria. A cada tempo, uma linguagem. Logo, em cada tempo um palavrão. Mas como definir um palavrão? Diz o Mini Luft: 1. Palavra grande; 2. Palavra indecente. Então, palavrões são palavras que expressam a indecência de um tempo determinado. Sendo assim, quais as indecências do nosso tempo? São elas as indicadoras dos palavrões contemporâneos.
No início de Março de 1964, o Brasil vivia uma intensa turbulência política. As forças da direita, representantes do capital nacional e internacional, conspiravam para acabar com os avanços do movimento popular, que exigia a ampliação dos direitos sociais das classes trabalhadoras. O Presidente João Goulart, acuado por todos os lados, decidiu-se por um encontro com o povo, em praça pública. 
Foi marcado um comício, na cidade do Rio de Janeiro, (na prática, era ainda a capital política do país), para o dia 13 de Março, 17 horas. Nele, com o testemunho dos mais de duzentos mil trabalhadores que compareceram, Goulart afirmou: "O Brasil precisa de reformas e eu estou aqui para iniciá-las". Em seguida, no próprio palanque, assinou os diversos decretos que facilitariam tais reformas. A Reforma Agrária estava entre elas. Liberdade sindical, voto para os analfabetos, legalidade para o Partido Comunista, também. Aquela sexta feira 13 foi o estopim do golpe: a reação conservadora não tolerou o "abuso dos decretos". O resto da história todos sabem. Sabem também que, hoje, os analfabetos votam, o PC tem existência legal e a liberdade sindical é uma realidade. Mas e a Reforma Agrária? A Reforma Agrária incomoda muito mais...
Uma reforma radical no campo, a partilha da terra, a igualdade de condições para produzir, a prática da policultura (que gere comida barata e saudável para os habitantes do campo e da cidade), políticas públicas que acabem de vez com os privilégios dos grandes proprietários, continuam incompatíveis com os interesses do velho latifúndio monopolista-exportador. O uso da terra para o lucro máximo, não para o preço justo, permanece como o objetivo. Não importa a degradação planetária, muito menos o crescimento da insegurança alimentar mundial. 
Desse modo, percebe-se que, neste caso, só o palavrão é novo - AGRONEGÓCIO. A indecência permanece a mesma. Não há 50 anos, mas desde o tempo das capitanias hereditárias. Até quando?
Seguindo o exemplo do povo venezuelano que grita "Chávez somos todos!", poderíamos, quem sabe, gritar: "Camponeses somos todos! Abaixo o palavrão!" 
Maria

Faz aqui tua pergunta, 
talvez alguém responda

deixa aqui uma resposta, 
talvez alguém queira escutá-la.



Duas obras que desvelam indecências sociais: 

Violência no campo - O latifúndio e a reforma agrária. Júlio José Chiavenato. Editora Moderna, 2009.




Movimento camponês rebelde - a reforma agrária no Brasil. Carlos Alberto Feliciano. Editora Contexto, 2006.



3 comentários:

  1. o pai de todos os palavrões, o latifundio opressor das idéias e ações libertadoras

    SISTEMA JUDICIÁRIO

    ResponderExcluir
  2. Marcos Feliciano, talvez o palavrão mais Hastag# do momento!!!!!!!

    ResponderExcluir