domingo, 15 de dezembro de 2024

ONDE MORA O FUTURO?

 


" ...
   E agora José?
   A luz apagou,
   o povo sumiu. 
   E agora você?
   O riso não veio, 
   não veio a utopia.
   E agora José? 
   José para onde?
      ...
   Carlos D. de Andrade "  




Neste XXI, sem dúvida, a luta maior da humanidade será a luta pela chance de um futuro em que a vida permaneça . Para que o tempo presente não seja o tempo do fim. Para que seja possível de novo ver uma luz no fim do túnel.
No entanto, só abrir os olhos não vai resolver para voltar a  enxergá-la. Porque o túnel construído por tantos, ao longo dos séculos XIX e XX, foi desabado pele cobiça neoliberal da atualidade e, desse modo, está  impedida  a visão  de qualquer saída.  Para vê-la outra vez, será preciso cavar um novo túnel, colocar as mãos no barro para remover  o entulho e reconstruir o caminho da luta. E quando o caminho renovado começar a se abrir, será indispensável usar os pés para seguir em marcha.
Mas mesmo com os olhos atentos,  as mãos na massa e os pés em marcha, será imprescindível também uma argila agregadora que garanta a unidade deste corpo coletivo que pensa e faz. Pode ser chamada de consciência tal argila, aquele saber que sabemos ter, aquele conhecimento da realidade, aquela sensação de pertencimento  a uma fração social. E, para além da consciência da necessidade, a consciência da possibilidade, se....
È ousado e arriscado abrir os olhos, oferecer as mãos para limpar o terreno, colocar-se de novo na estrada, ter consciência da urgência em reforçar a luta. MAS É NA LUTA QUE HOJE MORA O FUTURO.

                                                                              MARIA 

CONTINUANDO...


Neste abril de 2025, as trabalhadoras e os trabalhadores da rede estadual de educação pública do RS estão sendo chamados, de novo, a participar desta luta pela dignidade perdida, pela existência, pela possibilidade de futuro.
Que os corpos se pintem "pra guerra". Como se fazia na tribo. Porque é de tribo que a luta precisa, não de "valentes" solitários nas esquinas.
O projeto político hoje em andamento no RS, em todas as áreas sociais, não só no campo da educação, é, na íntegra, o projeto  capitalista neoliberal hegemônico mundialmente. O mais perverso já colocado em prática, planetariamente. Embora não pareça. Justamente porque não parece. Usa uma máscara, bem bonita, de bom moço.
Para vencê-lo, não basta "o povo trabalhador  da educação".  Será imprescindível chamar também os estudantes. E as mães. E os movimentos sociais populares. 
Porque, como está escrito naquele muro, "além de não ser fácil, ainda é difícil."

Boa luta.
Para os que ousarem subverter a ordem.
Para os que pintarem e bordarem o  futuro.



                                                                               MARIA








sábado, 7 de dezembro de 2024

O QUE É A ESCOLA PÙBLICA ?

 


Para os "novos" liberais, que hoje são "donos" do mundo, a Escola Pública, enquanto  não estiver totalmente extinta, deve ser apenas uma fábrica de  submissão aos tempos. È assim e pronto. Aceita que dói menos. Seu objetivo velado é  a formação de um exército de zumbis, adoradores de telinhas, indiferentes ao mundo real em que estão mergulhados.
No entanto, para aquelas e aqueles, donos só da própria consciência, a Escola Pública é um território em disputa e deve ter por objetivo a formação de cidadãs e cidadãos críticos e solidários. Afinal, mesmo atacados, cansados, adoecidos, descrentes, "ainda estamos aqui" resistindo. O barco segue em mar revolto. Com aposentadas e aposentados  no porão, a pergunta que surge no convés é se , quando chegar a vez delas e deles, terão espaço no porão. Ou serão jogados diretamente ao mar , sem cerimônias?
Nosso instrumento de luta coletiva - o CPERS/SINDICATO - está fragilizado. Muito por conta dos ataques implacáveis da política neoliberal imperante nos governos e nos parlamentos. Mas muito também por conta de sua própria contaminação pelo "espírito" do tempo. O individualismo exacerbado das lideranças , a ausência das bases e o abandono da formação  política sindical são alguns dos  indícios desta realidade, embaraçando a necessária reinvenção da luta.
Nos próximos dias 16 e 17, estaremos elegendo os Conselheiros 1/1000, os Representantes Regionais de Aposentadas (os) e os representantes Estaduais de Aposentadas (os)  no CONSELHO GERAL DA ENTIDADE. Mas nestes dias o protagonismo não será de candidatas e candidatos. Será da BASE. Só a Base poderá mostrar ao inimigo de classe instalado no Piratini nossa força ou nossa fragilidade. Por isso, VOTA COLEGA. Seja qual for a predileção do teu voto.

Nós da CHAPA 3, UNIDADE PELA RECONQUISTA DE DIREITOS, no segmento APOSENTADOS ESTADUAIS, te convidamos a vir conosco, a abraçar as propostas que trazemos para fortalecer nossa luta sindical. São elas:
*Trabalho incansável pela mobilização e formação sindical da base
*Defesa incondicional da escola pública  laica e democrática
* Considerar inegociável a luta pela reconquista de nossos direitos roubados.

                                                                 MARIA

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

CARA (O ) COLEGA

  


Um dia, faz tempo, escolhi ser professora. Por mais de 30 anos, estive aprendendo e ensinando no chão da Escola Pública. Mas também no chão das ruas e das praças, nas portas dos palácios e dos colégios, que de palácios nada têm. 
Hoje me chamam aposentada, palavra de significado dúbio. De um lado, expressa uma condição de lazer e liberdade depois de um longo período de trabalho e compromisso. De outro, a condição de alguém recolhido aos aposentos de uma casa qualquer.
Nenhum deles me define. Lazer e liberdade pouco tenho. Vivemos em um mundo onde lazer e, até mesmo liberdade, custam caro. E "recolhida" não quero me sentir em casa alguma. Casas são como portos, onde nosso corpo/barco reabastece as energias para voltar ao mar.
E o mar da vida continua inóspito para trabalhadoras e trabalhadores em educação. Como, aliás , para toda a classe trabalhadora. 
Educação não é tudo. Tudo é  respeito aos direitos conquistados pela luta de muitos ao longo do século XX, é devolver ao povo o que do povo foi roubado. Mas se não é tudo, é parte significativa e fundamental na construção de uma sociedade . Para o bem ou para o mal. Porque se pode educar para manter o humanamente construído até aqui ou "para mudar o mundo".
O capitalismo neoliberal  triunfante na atualidade, e disfarçado pela dita "revolução tecnológica", golpeia firme os instrumentos de luta das trabalhadoras e trabalhadores. As marcas destes ataques  são visíveis no movimento sindical contemporâneo, deixando-o frágil e inoperante.
O CPERS/SINDICATO  não tem conseguido fugir desta realidade. È preciso pensar e atuar, para cavar de novo o túnel , aquele, sabes, que permite ver a luz  no fim. E o momento é  este.
Estamos em pleno período eleitoral interno.
A primeira fase já aconteceu. Nela votaram apenas cerca de 20% dos sócios e sócias Realidade preocupante, para dizer o mínimo, quando a palavra da hora deveria ser Mobilização. Mas também extremamente grave porque deixou nítida para o inimigo de classe instalado no Piratini nossa fragilidade coletiva no que se refere justamente à mobilização necessária.
No entanto, a SEGUNDA FASE - a eleição  dos 1/1000, DOS REPRESENTANTES DE APOSENTADOS/AS no Conselho Geral e no Núcleos e a ou o representante municipal nos Núcleos - ainda não foi concluída. A ELEIÇÃO será nos dias 16 e 17 de DEZEMBRO. Logo, podemos fazer diferente, comparecendo em massa à urna virtual. 
Estou escrevendo para te chamar à luta, ao mar, À UNIDADE PELA RECONQUISTA DOS DIREITOS, ( CHAPA 3 DE REPRESENTNTES DAS APOSENTADAS(OS) NO CONSELHO GERAL DO CPERS ). AO VOTO. Porque "ensinar democracia" no agora, exige mais do que hinos e palavras de ordem ou discursos inflamados na boleia de um caminhão. Exige coerência entre discurso e prática, autocrítica, construção programática coletiva com a base. Exige presença.

ESTAMOS NA LUTA
#Pelo fim do desconto previdenciário
#Pelo fim do subsídio e respeito ao plano de carreira
#Pelo fim da cobrança abusiva do IPE SAÚDE
#Pela realização de concurso público na Educação
#Pelo piso e plano de carreira para funcionários
#Pelo estímulo à participação da base nos espaços internos de tomada de decisões
#Contra as PPPS, a  MERCANTILIZAÇÂO DA EDUCAÇÃO, a PRIVATIZAÇÃO DAS ESCOLAS PÚBLICA
# EM DEFESA DA ESCOLA PÚBLICA, LAICA E DEMOCRÁTICA

Acreditando que atenderás ao chamado, 
Forte abraço
MARIA DO CARMO GAUTERIO
REPRESENTANTE REGIONAL DA CHAPA 3
UNIDADE PELA RECONQUISTA DOS DIREITOS


 CHAPA 3 APOSENTADAS (OS) - CONSELHO  GERAL

CÂNDIDA - MARIA DE FÁTIMA - GELSI - ROSANA - TANIA TERESINHA -  LÌVIA - STAEL ANGELITA - SÍLVIA - NEUSA - LAURA - FRANCISCA - MARIA NORMA - BIA - LUCIMAR - SANDRA - LARI - JULIA  - VALÉRIO

terça-feira, 15 de outubro de 2024

O MAR DAS PROFESSORAS

"Lutar quando é fácil ceder
Negar quando a regra é vender
Romper a incabível prisão
É minha lei..."
Chico Buarque, para Bethânia




No barco da história
que carrega as professoras, 
muita lenda,
muita mentira bela, 
muita verdade amarga,
muito mérito e demérito,
muita manipulação dos fatos, 
muita injustiça espalhada no convés,
muito feliz dia, uma vez por ano,
muita vontade de escapar, às vezes.

Ao som do mar revolto,
estão em silêncio as professoras.
Mas não todas.
Parece que algumas continuam 
dizendo que é possível.
Fazer diferente.

Como fazia Gilda, a Lopresti, 
que não cansava de falar
ser o brinquedo o melhor caminho.
Do aprender e do ensinar.
E afirmava, consciente,
ser ela própria o conteúdo,
quando dava aulas no Normal do Juvenal.

Sejamos todas conteúdo, companheiras
A cada hora, de cada dia,
Todos os dias do ano.


                                                                           MARIA

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

NO MEU QUINTAL

 


No meu quintal
Tem um beija-flor na laranjeira,
Enquanto os pardais conversam nas roseiras.
E a chuva cai.
Também pelo ar, é instrumento a voz do Milton.
No peito, dentro, uma vontade.
De festejar a vida,
Festejando a luta
E a vontade de lutar.
Pelo planeta e pelas crianças pretas.
Pelos bichos soltos e por quem vende balas no sinal.
Pelo ar de respirar e pela terra partilhada.
Pela água de beber e pelo teto de morar.
Pelo tempo que nos roubam todo mês,
De ver a lua no mar,
Nascendo ...
"Que pensar arcaico!" Como assim, quintais?
Dizem muitos que me escutam hoje.
"Quanta infantilidade!" Como assim, quintais?
Diria minha vó um dia, mas faz tempo.

                                                                MARIA


"E há canções e há momentos em que a voz é um instrumento
Que eu não posso controlar"
Canções e Momentos", Milton Nascimento










quarta-feira, 28 de agosto de 2024

A ESCOLA PÚBLICA E OS DESAFIOS DA CONJUNTURA

 "Quem abriu estas comportas?
    .....
   E o meu povo sem colete,
   Enquanto a água vai levando...."
   Márcio Faraco, em "Um pingo no telhado"


A Carta da Confederação Nacional dos Trabalhadores ( e Trabalhadoras ) em Educação (CNTE), dirigida à sociedade brasileira às vésperas das eleições municipais de 2024, conclamando, em especial, as comunidades escolares para que votem somente em candidatas e candidatos comprometidos com as pautas da Escola Pública, de certa forma rabisca, nas entrelinhas, o perfil de candidaturas e mandatos que representam os interesses da classe trabalhadora. Porque é a classe trabalhadora que frequenta a Escola Pública, sendo ainda exceção apenas o Ensino Superior.

No entanto, para que cada um dos pontos priorizados pela Confederação seja transformado em objetivo atingido, outras lutas  terão que ser lutadas. Nos Parlamentos e nas Ruas. Porque colégios não são ilhas da fantasia. E são perpassados, disfarçadamente ou não, por todos os conflitos sociais existentes em cada tempo histórico. Assim, para transformar a escola, é preciso, paralelamente, ir lutando para transformar o mundo. Isto a Carta não disse. Poderia ter dito.

Não se fala abertamente em conjuntura na Carta. Mas quem prestar atenção, vai perceber nela alguns sinais conjunturais da atualidade. Pois se está dito "ser preciso" defender uma  Escola Pública desmilitarizada, laica e democrática, fica implícito que a realidade aponta para o inverso disso.

Invertendo, um por um, todos os princípios elencados no texto. estará descrita significativa parcela da conjuntura educacional brasileira hoje. 

A "variante" do sistema do capital que hoje domina o mundo, este liberalismo que chamam de novo quando é apenas mais, destinou à escola pública, e a todas as "mídias" e "redes", a tarefa de acentuar a colonização das mentes enquanto se dedicava à recolonização dos corpos,  ambas fundamentais para a consolidação e permanência do projeto globalizado que defende na esfera econômica.

Para efetivar o "plano", muitos foram  os instrumentos utilizados. O fundamentalismo religioso disseminado nas famílias para que exigissem da escola o reacionarismo social que faz do diferente um inimigo,  o fim das carreiras de servidoras e servidores do campo educacional, a precarização das condições físicas das escolas, o arrocho salarial, a censura a livros e manifestações artísticas, o tiro de quase morte nos movimentos estudantil e sindical, entre tantos outros.

Contudo, o mais danoso, porque infinitamente mais duradouro, está constituído pelas alterações curriculares advindas de leis espúrias, que continuam inviabilizando projetos político-pedagógicos insurgentes, que  preparem não para servir ao "mercado"  mas para combatê-lo. Que digam aos estudantes que eles não são empresários de si mesmos. Que não ensinem  empreendedorismo, ensinem cooperativismo.

Difícil conjuntura esta do XXI. Realidade brutalizada, em todos os cantos do mundo.

Todavia, como dizia Paulo Freire, a realidade só é até que... eu interfira nela. Para fazer junto e diferente...


                                                                                             MARIA





sexta-feira, 9 de agosto de 2024

O COMPROMISSO QUE IMPORTA




"... ...
Em vão percorremos volumes,
viajamos e nos colorimos.
A hora desperdiçada
esmigalha-se no chão da rua
... ...
Porque as leis não bastam,
os lírios não nascem da lei.
Meu nome é tumulto.
E escreve-se na pedra."
                 Carlos Drummond de Andrade



Há quem diga que não será com votos que a humanidade vai se libertar do capitalismo. Talvez com razão. Entretanto, nesta hora partida que nos coube viver, é o voto o instrumento que temos para resistir ao capital. As "condições objetivas" para que uma Revolução Social possa acontecer, hoje, não estão postas. Votemos, pois. Mas atenção nesse votar.
Que nossos votos não se esmigalhem no chão da rua, como as horas perdidas do Drummond. Que eles sejam sementes de mandatos capazes de representar a luta anticapitalista. Tratando por este ângulo cada questão local. E indo além... De peito aberto, com coerência entre discurso e prática.
Mandatos que sejam contraponto à ordem estabelecida há 500 anos nestas terras - a ordem dos pés calçados pisando nos pés descalços.
Mandatos andarilhos que não se restrinjam à política dos gabinetes. Também deixem rastros nas calçadas.
Mandatos que levem para o espaço institucional o tumulto dos que têm fome. De pão e de justiça.
Mandatos que honrem a vida, honrando a luta. Porque este é o compromisso que importa. E precisa ficar registrado. Nas pedras e nas urnas.
Ao voto, então!
                                                                                                                             MARIA
 

sábado, 3 de agosto de 2024

QUANDO COMEÇA A REVOLUÇÂO?

 

"Como se não fosse um tempo

 em que já fosse impróprio

 se dançar assim"

Bandolins, Oswaldo Montenegro


Quando começa a Revolução?
Alguém que saiba, por favor, levante a mão.
Não são revolucionários os tempos de agora , é o que responde a voz corrente
Mas quem deixou os tempos  serem não-revolucionários? é o que perguntava a inquietude um  dia desses.
Alguém que saiba, por favor, levante a mão.
O projeto revolucionário de mudar o mundo, quando foi deixado numa esquina?
Não querem mais mudar o mundo as gentes de agora , responde de novo a voz corrente.
Mas o que deixou as gentes assim, não-revolucionárias? pergunta outra vez a inquietude.
Alguém que saiba, por favor, levante a mão.
No tempo de antes, o tema dominante era a vontade apaixonada de construir um  mundo novo.
Hoje se luta, quando se luta, só para gerenciar o mundo velho.
Onde foi parar a rebeldia? 
Alguém que saiba, por favor, levante a mão.
Frente ao descalabro mundial do tempo presente, o objetivo dos movimentos sociais e das organizações de esquerda, no mundo inteiro, deveria ser  transformar o poder político e não apenas conquistá-lo momentaneamente nos moldes tradicionais da sociedade burguesa.
Como atingi-lo?
Alguém que saiba, por favor, levante a mão

                                                                                                  MARIA

                                                                                      
"Ressuscita-me.....
para que eu possa amar
o que faltou amar

Ressuscita-me....
nem que seja só por isso"

O amor, Maiakovski
( continuado por Caetano,
cantado por Gal)

sexta-feira, 19 de abril de 2024

A PRAIA GIRÓN

 

"Ao mirar a destruição do imperialismo, há que identificar  sua cabeça, que outra coisa não é senão os Estados Unidos da América do Norte" Ernesto Guevara


É possível olhar a Revolução Cubana como um processo de luta armada, liderada por Fidel Castro e companheiros, contra o regime ditatorial comandado por Fulgêncio Batista, durante a década de 1950. Um movimento guerrilheiro que conquistou a maioria do povo para o combate contra as condições de miséria, corrupção, censura e subserviência em relação aos EUA. E conseguiu instalar um governo que revolucionou a sociedade do país a partir de 1959.
No entanto, para realmente compreendê-la, é necessário olhá-la como a continuidade de uma  marcha revolucionária que começou por volta de 1868 nas lutas contra a dominação espanhola e que sempre propôs transformações radicais na estrutura econômica, social e política da Ilha.
No início da década de 1960, encontraram-se na mesma esquina o ontem secular e aquele hoje tão novo para traçar um amanhã. E avançar em direção à  transformação do mundo.
Em 1961, decorridos dois anos da libertação concretizada em 1959, feita uma reforma agrária radical em 1960, dedicavam-se os cubanos a enfrentar, também radicalmente, os desafio da educação popular. Começaram pela alfabetização dos jovens e adultos do campo e da cidade. Nas  cidades, o índice de analfabetismo era, então, de 25% entre os maiores 15 anos. No campo, esse índice era de 40% para a mesma faixa etária. Ao fim de um ano do empenho gigante, o índice geral de alfabetização dos maiores de 15 anos no país chegava a 96%.
Mas, enquanto isso, a guerra não tinha acabado. Os ataques do império norte-americano continuavam sistematicamente, explícitos ou disfarçados.
Em janeiro daquele ano, o governo dos EUA rompeu relações diplomáticas com Cuba, depois de ter passado dois anos boicotando sua economia.
Em abril, no dia 13, aviões norte-americanos, vindos da Nicarágua e pilotados por mercenários ianques e  cubanos, bombardearam Havana. Dia 15, Santiago de Cuba. E Havana de novo.
No dia seguinte, Fidel afirmava publicamente: "O que não nos é perdoado pelo império é o fato de existirmos e, debaixo do nariz deles, termos feito uma Revolução Popular e Socialista". Estava proclamado o caráter socialista da revolução guerrilheira e popular dos cubanos.
Não tardou a resposta dos EUA a uma ousadia tamanha. Menos de 24 horas depois da declaração de Fidel, um exército mercenário, aglutinado e treinado pela CIA, desembarcava na costa sudoeste da Ilha, numa praia chamada Girón, na Baía dos Porcos. Dali avançaria por terra até a capital, sabendo que o exército nacional de Cuba não tinha tamanho para enfrentá-lo. Em breve estaria derrotada  a tal "Revolução Popular e Socialista".
O que não esperavam os invasores era a resistência civil do povo cubano que, unida ao exército oficial, conseguiu derrotar e expulsar do seu território os soldados, os tanques e os aviões do poderoso inimigo. Em 72 horas.
Assim, no dia 19 de abril de 1961, comemoraram os revolucionários sua vitória na Batalha da Praia Girón, que passou à História como cenário da primeira derrota do imperialismo norte-americano no Caribe, na América Latina e no Mundo.
Coincidentemente, a segunda derrota do "grande irmão do norte" viria igualmente no correr de um abril, o de 1975, na Ásia distante, quando um outro exército, também guerrilheiro e popular , o venceu no Vietnã.
                                                                               

                                                                                             MARIA

quarta-feira, 10 de abril de 2024

GREVE



"VOCÊ CORTA UM VERSO,
  EU ESCREVO OUTRO.
  DE REPENTE, 
  OLHA EU DE NOVO.
  PERTURBANDO A PAZ,
  EXIGINDO O TROCO. 
  OLHA AÍ,
  AI QUE MEDO, 
  VOCÊ TEM DE NÓS..."
Pesadelo, 1972
Paulo Cesar Pinheiro, Paulinho Tapajós

Nos idos do século XVIII, Grève era o nome de uma praça localizada na zona portuária de Paris, às margens do Rio Sena. Não tinha árvores, nem bancos, só um chão de areia grossa , coberto de gravetos. Daí seu nome. Nela costumavam reunir os miseráveis da cidade em busca de um trabalho. Porque lá apareciam seguidamente empregadores procurando "mão-de-obra" barata. 
Na época da Revolução Burguesa de 1789, começaram também a reunir no local trabalhadoras e trabalhadores que protestavam contra as terríveis condições de exploração em que viviam os assalariados e assalariadas da França. Foi um berço de lutas La Grève . Muitas ainda necessárias nos tempos que correm. Naquele período servia, ainda, a praça , para execuções e suplícios públicos de condenados.
Nos dias de hoje, La Grève não se chama mais assim, não tem nenhum monumento que assinale sua origem e não consta dos roteiros turísticos da capital francesa. Tentativa, entre tantas espalhadas pelo mundo, de tornar invisível a luta social, apagando os vestígios da história.
Além deste apagamento físico, a razão neoliberal, imperante no mundo contemporâneo, gosta de dizer que uma greve "pode" ser feita porque é um direito estabelecido constitucionalmente. Mente a razão neoliberal.. A greve possível  para "alguns"  no agora só chegou até à norma constitucional  porque "pôde" antes. Mesmo não podendo. E só  pôde pela valentia, pela rebeldia, pela consciência da necessidade, pela vontade de "mudar as coisas". De muitas e muitos. Aliás, todas as grandes conquistas das classes oprimidas no mundo são fruto das lutas proibidas ao longo dos séculos XIX e XX .
No Brasil, por exemplo, nestes tempos de greves garantidas pela Constituição de 1988, mas de consolidação do projeto neoliberal, mais perdeu do que ganhou a classe trabalhadora.
Assim, é possível afirmar que, na verdade, a greve é um direito humano universal só garantido pela força de quem luta. Desse modo pensavam os negros escravizados  do visconde de Mauá, lá na Bahia de 1856. E os escravizados trabalhadores que construíam a pirâmide de Kheóps,  cerca de 2500 anos anos antes da era cristã. 
                                             ALLONS LA GRÈVE, CAMARADES

                                                                           MARIA

segunda-feira, 11 de março de 2024

SE A CIDADE FOSSE NOSSA

 

" A gente tem fome de quê?
  A gente não quer só comida,
  A gente quer comida, diversão e arte.."
  TITÃS, 1987


" Se a cidade fosse nossa" é o nome de um livro, lançado em 2023. Escrito por Joice Berth, arquiteta e urbanista, destacada militante feminista e antirracista do Brasil contemporâneo. Nele, a autora nos conta a história da formação das cidades brasileiras desde os tempos coloniais, revelando o quanto foram erguidas para a segregação. De classe, de cor, de gênero, dos "diferentes". Segregação esta que, naturalizada ideologicamente pela classe social opressora, teima em se perpetuar.
Vai além, Joice Berth. E propõe a luta por uma cidade que, invertida a ordem até aqui estabelecida, se reerga para a congregação. E se torne um  espaço de partilha. De saberes, de quereres e de poderes. Onde o direito de nela estar seja, outrossim, o direito de estar bem. Não só garantido para quem a vive hoje, como também às gerações futuras. Será então erguida a cidade capaz de mitigar as diferentes fomes de seu povo.
Aquela fome primeira, que vem do estômago e esgota o corpo inteiro. Ela voltou a ser sentida por significativa parcela da população brasileira depois do golpe contra a Presidenta Dilma, em 2016. 
E aquelas fomes outras, só percebidas quando o estômago não dói por estar vazio. Fome de aprender e ensinar, fome de rir e brincar, fome de teto e emprego. Fome de participação e de poder de decisão.
Entre tantas outras.
Vale ouvir  Joice Berth, lendo o livro.
Porém, vale ouvir, ainda, a voz da juventude que vive a cidade. Trabalhando, estudando, lutando, festando, PENSANDO.
Ouçamos, pois.


                                                                                                MARIA
   


                                                          " E SE A CIDADE FOSSE NOSSA..."

Rio Grande não é só a cidade da maior  praia do mundo, do bauru e dos ônibus lotados. Do sacrifício de quem sai todos os dias para trabalhar, estudar e ter a sensação de que parte da sua vida está ficando pelo caminho.
Rio Grande não é só da especulação imobiliária, onde viver fica cada dia mais caro. Também não é da falta de saneamento e saúde, da insegurança das ruas, do descaso com o meio ambiente, do abandono nos bairros e da falta de professoras nas escolas.
Nossa cidade é muito mais do que essa sujeira!
Afinal, a cidade somos NÓS! 
Nós que trabalhamos, estudamos e somos a vida e a alma dessa terra. E se somos a cidade, é mais do que justo que a cidade seja NOSSA. 
Rio Grande pode ser do tamanho dos nossos sonhos, basta desse sentimento de medo e de impotência. É chegada a hora da gente construir - nós mesmos - a cidade que queremos.
No bairro onde moras, há espaços públicos de cultura, esporte e lazer?
Para ir ao trabalho, à escola, à faculdade ou à festa, quanto tempo ficas na parada, esperando o ônibus?
Andar por aí sem medo, independente da hora ou lugar. Fazer uma festa na praça, contar com transporte digno, poder decidir o que é melhor para o teu bairro. Tudo isso é DIREITO À CIDADE.
Direito à Cidade é um direito humano e coletivo, que diz respeito tanto a quem nela vive hoje  quanto às futuras gerações. É um compromisso ético e político de defesa de um bem comum essencial a uma vida plena e digna em oposição à mercantilização dos territórios, da natureza e das pessoas.
Em 2024, as eleições municipais nos darão oportunidade de, através do voto, definir o futuro das políticas públicas da cidade.
Tira ou regulariza teu título e participa da construção do teu futuro.
VAMOS PENSAR A CIDADE QUE A  GENTE QUER?

                                                                                                   RUAN ESTABEL

 


terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

OLÍVIO DUTRA - LIÇÃO DE LUTA

Figura fisicamente frágil, cabeça grisalha quase branca, vagareza no andar, certo ar distraído, despertando vontades. De dar o braço, de ajudar a subir, de alcançar uma água, de abrir o caminho, de fazer um afago.
Quando chega, primeiro olha e escuta. E anota, o que escuta e vê. Não chama atenção. Ao contrário, presta atenção. Mesmo parecendo que não. Está dada a primeira lição. Ele próprio o conteúdo.
Quando fala, com a singeleza só encontrada na sabedoria, do que fala Mestre Olívio?
Primeiramente, vai lembrando a quem o ouve do compromisso primordial da esquerda com o internacionalismo da luta.. Sem hesitação, sem meias-palavras. Solidariedade incondicional aos oprimidos, combate incessante aos opressores. Sempre.
Depois, fala lindamente da importância da democracia até aqui conquistada, da sua incompletude, da necessidade de ampliá-la e aprofundá-la, na sociedade e no Partido. Aqui , enfatiza que companheiras e companheiros com mandatos são nossos representantes, não são nossos substitutos no poder de decisão. Aponta a radicalização da democracia participativa como objetivo a ser alcançado.
Reconhece os erros e as insuficiências do já feito. Afirma que é preciso avançar na organização da classe trabalhadora e na justiça tributária, ao resgatar o OP.
Destaca o significado do Parlamento e o papel das bancadas de esquerda dentro dele. Recomenda contestação ao individualismo e ao personalismo com que o capitalismo neoliberal dominante tem nos contaminado. Nas práticas partidárias, nas políticas públicas propostas, nos movimentos populares e sindicais.
Não diz, mas deixa ver que ainda tem esperança. Se não tivesse, não continuava andarilhando por aí.
Quando se vai, a gente percebe o inverso do percebido  no início. Quem dá o braço é ele. Quem ajuda a andar e a saber é ele. O necessário copo d' água também é ele a oferecer. E ainda mostra o caminho.
Frágeis, vagarosos, distraídos e sem vontade de mudar as coisas  estamos nós.



                                                                                                        MARIA

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

FAZENDO O TEMPO DE ADIANTE



 "OS PASSOS PARA TRÁS NEM SEMPRE SÃO UM RETROCESSO"
 PALAVRAS NO MURO


O andar cada vez menos crítico da esquerda  contemporânea, moderadíssima em sua concepção de luta,   e em grande parte institucionalizada em Partidos, Movimentos Sociais, Mandatos Parlamentares ou Mandatos Executivos, tem trocado a reflexão coletiva, só ela capaz de dar consistência ao caminho, por uma prática política ajustada, acomodada, ao "espírito " do tempo, sempre justificada por urgências e emergências. Esta é uma constatação corrente entre aquelas e aqueles que se negam ao cabresto do pensamento único e continuam refletindo sobre as razões da realidade social deste XXI.
No entanto, para o enfrentamento eficaz dos desafios colocados, não é só a ação direta que precisa ser resgatada, há que resgatar também  a reflexão teórica. Porque só um encontro bem sucedido entre o compromisso ativista de estar e a compreensão intelectual das razões deste estar vai qualificar a inserção das organizações de esquerda  nos diferentes espaços políticos.
O projeto neofascista do inominável governo federal anterior, chegado ao poder por um golpe jurídico-midiático, e derrotado eleitoralmente em 2022,  no que tange ao poder executivo central, permaneceu organizado, forte e vitorioso no parlamento nacional, na maioria dos governos e parlamentos estaduais e municipais. Desafiando, boicotando, e sitiando LULA III o tempo inteiro.
A tentativa, dita fracassada, do 8 de janeiro não foi tão fracassada assim. Seus mentores, financiadores, articuladores e incentivadores, entre eles a cúpula da forças armadas, o agro-pop, os organizadores das milícias digitais, os bacanas da Faria Lima e a própria besta-fera e sua família, continuam soltos e fazendo política. Ingenuidade pura acreditar, e divulgar, que "a justiça tarda mas não falha". Tarda e falha, em toda sociedade dividida em classes. Por isso,  comemorar nossa "democracia inabalada" sem denunciar que  golpes continuam sendo dados ou tentados cotidianamente contra o povo brasileiro , é apenas propagar uma ilusão que acentua a desmobilização popular e o analfabetismo político.. Porque, embora bastante significativos,  não basta a restauração dos símbolos arquitetônicos dos "três poderes" e, nem mesmo a continuidade do funcionamento oficial de cada um, para que se possa considerar "inabalada" nossa democracia.
A continuação abusada da violência contra os povos indígenas e os camponeses do MST, a resistência do garimpo ilegal em abandonar territórios por ele ocupados, o prosseguimento do genocídio policial nas periferias urbanas, a destruição dos serviços públicos nos Estados e Municípios, entre tantos outros ataques, não abalam a democracia.? Eles serão intensificados em 2024, que não se duvide disso. Mas não serão a pedra maior colocada nesta trilha. A montanha a vencer está dentro de nós. Para que se possa ir além .
Resgatada de si mesma, a esquerda poderá deixar de ir às ruas apenas para ganhar eleições e "administrar melhor o capitalismo". Voltará às praças e aos becos  para subverter a ordem do capital, hoje vitoriosa globalmente. Uma vez que é seu compromisso/semente  contribuir para o avanço da consciência de classe dos precarizados  do mundo. Compromisso que exige um "cuidado" com as vozes levantadas. Fortalecê-las no debate coletivo é condição para que não se percam nem se contaminem em meio ao vozerio neoliberal predominante. Porque é com a bagagem que trazem dentro que lutadoras e lutadores sociais vivem seu hoje histórico  e deixam montado um cenário para o  tempo futuro.
O tempo de agora fazendo o tempo de adiante. 



                                                                                         MARIA



 

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

OS LANCEIROS NEGROS

 

"SABER É O PRIMEIRO PASSO EM DIREÇÃO AO COMBATE"
                                     PALAVRAS NA CERCA   


LULA sancionou, no último dia 5 de janeiro, a LEI 14.795/24, proposta pelo Senador Paulo Paim, que inscreve "os lanceiros negros do RS" no "Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria", como parte de uma reparação  histórica bem mais abrangente do que uma simples homenagem àqueles soldados que lutavam bravamente por sua própria liberdade, traídos e assassinados pelo conluio entre o império do Brasil e a classe dominante sul-rio-grandense, lá nos idos de 1845. Vai além, porque também traz, nas entrelinhas, o reconhecimento oficial do Estado do Brasil à contribuição basilar de negras e negros na construção da sociedade brasileira. E ainda chama a atenção para o racismo estrutural que nublou por muito tempo a produção historiográfica do RS. E, eventualmente , permanece por aí.
Na maior parte das vezes, a grande rebelião de 1835 foi, e continua sendo, chamada de Revolução Farroupilha. Mas Revolução não foi. Porque Revolução é um Movimento que tem por objetivo subverter a ordem sócio-econômica estabelecida. E os latifundiários do Rio Grande do Sul não queriam subverter a "ordem" instalada nestas plagas. Não queriam dividir a terra, não queriam o final da escravidão, nem devolver o gado chimarrão aos guaranis, nem abrir mão de quaisquer privilégios de classe. Só queriam garantir direitos que consideravam "seus" e não estavam sendo respeitados pelo poder imperial.
O mais comum dos tropeços historiográficos cometidos por aqui é, sem dúvida, a não inserção da "guerra dos farrapos" no processo mais amplo que foi a chegada do liberalismo ao Brasil, no alvorecer do XIX. O que leva, consequentemente, ao "esquecimento" de que, naquele mesmo período, explodiram rebeliões semelhantes  no  país inteiro, todas fruto da insatisfação das camadas economicamente dominantes nas províncias brasileiras. Uma defesa intransigente do Federalismo pelo inconformismo geral dos "proprietários" com o protecionismo dado ao cafeeiros do Sudeste pelo governo central. Seguindo os ventos soprados, já na época, pelo grande "irmão" do Norte.  Foram todas vencidas pelo Império. Faltou-lhes gente para o combate. Porque não ousaram colocar armas nas mãos dos contingentes escravizados. Podiam ser viradas contra eles. Preferiram acordos costurados nos gabinetes aos riscos de uma revolução social. Na chamada  República de Piratini parecia diferente. Os trabalhadores escravizados foram chamados à luta, a "palavra de honra" dos caudilhos sulistas assegurava liberdade no fim do caminho, para quem sobrevivesse. Na hora final, no entanto, bem sabemos de Porongos.
A manipulação da história é instrumento de dominação  bem conhecido e tem sido utilizada desde os primórdios da sociedade dividida em classes. Fazer o contraponto, divulgando  a história real - porque devem ser chamados de heróis os negros entregues por  Canabarro à sanha de Caxias ou porque o 20 de novembro deve mesmo ser  feriado nacional , por exemplo, - é compromisso de todas, todes e todos que lutam por uma sociedade justa. COMUNISTA.
                                                                                             
                                                                                   MARIA