sábado, 2 de março de 2013

Onde estão os professores sobrecarregados? (retalho da história-presente)

Na história das sociedades humanas, há momentos que exigem perguntas, mas há os que exigem respostas. Na história do RS, este é um deles.
Na noite do dia 27 de fevereiro, em um programa de tv, ao vivo, a Secretária Estadual de Educação (adjunta) lançou um desafio à sociedade rio-grandense, ao perguntar: onde estão os professores sobrecarregados? Há que se responder à Secretária.
Talvez hoje no RS não existam mais professores trabalhando em duas escolas, com carga horária semanal superior a 30 horas e mais de 10 turmas de estudantes para atender. E isto, devemos reconhecer, representa significativo avanço. Mas é a realidade? Se for, aplausos. 
Entretanto, trabalhar em duas (ou mais) escolas, ter uma carga horária superior a 30 horas semanais e atender mais de 10 turmas de estudantes não são os únicos fatores a sobrecarregar os trabalhadores em educação. 
Sobrecarrega-os o insuficiente investimento no setor educacional,  que transforma o cotidiano escolar numa luta permanente contra o desconforto (quando não contra a insalubridade) no local de trabalho.
Sobrecarrega-os a política pública que não transgride a ordem do capital e os estimula a permanecer exclusivamente como "preparadores" de mão-de-obra para o mercado de trabalho. Embora os discursos oficiais afirmem o inverso. 
Sobrecarrega-os, também o salário miserável, representante e desvelador da grande contradição das sociedades capitalistas que, com "mão-de-obra barata", fazem da precariedade no atendimento ao grande público um instrumento garantidor da supremacia do poder privado.
Mais do que tudo isso, no entanto sobrecarrega-os a falta de perspectiva profissional, o estreito e nublado horizonte que seus olhos vêem, quando saem para trabalhar. 
Assim, da porta de cada escola pública rio-grandense, é possível responder à pergunta demagógica: ESTÃO AQUI. Estão aqui os professores e os funcionários sobrecarregados. De preferência, em uníssono e muito alto. Para que a resposta seja ouvida. Só o cinismo extremo ou a ingenuidade máxima, ousarão desmenti-la.
Maria


Leitura para compreender: História das Lutas dos Trabalhadores no Brasil. Vito Giannotti. Editora Mauad X, 2007.


Um livro com objetivo claro: oferecer uma versão da história da sociedade brasileira do ponto de vista da classe trabalhadora. Não é uma história geral das lutas dos aqui explorados desde os tempos coloniais. Seu recorte é a formação da classe trabalhadora urbana a partir de meados do século XIX, chegando à década final do século XX. 
Conhecer e reconhecer o protagonismo histórico dos "produtores" da riqueza (material ou imaterial), ao longo do tempo passado, é fundamental para que se compreenda o tempo presente. O texto de Giannotti contribui para esta compreensão e vai além: reafirma a convicção de que a luta continua sendo o único caminho capaz de clarear o horizonte.

Um comentário:

  1. Maria, adorei teus textos, mas este me fez pensar que realmente estamos sobrecarregados, sobrecarregados de descrença, de descaso, de desrespeito. Somos profissionais da educação, não meros números de matrículas ,trabalhando para sobreviver. Parabéns pelo blog. Continua escrevendo. Beijão.

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