terça-feira, 26 de maio de 2020

POR QUE 2020?

Talvez o Brasil esteja hoje protagonizando o apogeu de um processo político golpista que começou a ser colocado em prática com o impedimento fraudulento da Presidenta Dilma Rousseff, avançou com a também fraudulenta condenação do ex-Presidente Lula e consolidou-se com a farsa eleitoral de 2018. Tudo isso alimentado pela disseminação do ódio e da intolerância com o que não é espelho, que inviabiliza qualquer debate racional sobre a realidade, sequestrando o pensamento crítico. Impossível não relacionar a situação contemporânea  com a história vivida lá atrás, nos idos da década de 1960.
Em 1964, foi deposto, por um complô civil-militar, o Presidente João Goulart, legitimamente eleito e com seus poderes presidencialistas confirmados pelo voto de 95% dos eleitores, através do Plebiscito  realizado um ano antes. Portanto, um flagrante e inegável ato de desrespeito à vontade popular. Mas também  uma flagrante e inegável subserviência da elite econômica nativa aos interesses do capital internacional, liderado pelos EUA.
Tal como no impedimento de Dilma Rousseff, eleita em 2010 e reeleita em 2014, com 54 milhões de votos. De novo, um flagrante e inegável ato de desrespeito à vontade do povo expressa nas urnas.E, de novo também, flagrante e inegável ato de subserviência ao Império, praticado pela classe rica.
Logo em seguida, naquele tempo, foram perseguidas, desmoralizadas publicamente e cassadas as lideranças que podiam fazer o contraponto. Entre elas, o ex-Presidente JK, que poderia ter apoio popular para uma recandidatura à Presidência da República - acusado e condenado por atos de corrupção que nunca foram juridicamente comprovados. 
Tal como agora repetiu-se com Lula, que poderia ter sido reeleito há dois anos. E tem acontecido com inúmeras outras lideranças do MST e do MTST. Além  da impunidade garantida aos mandantes dos assassinatos de Marielle e Anderson, da juventude negra, dos pobres da periferia, das mulheres guerreiras, do índios...
A base ideológica que garantiu o sucesso inicial daquele golpe era propagandeada pelas rádios, pela televisão que iniciava, pelos jornais e revistas, pelas falas do púlpito - as redes da época.Falava do perigo comunista, da degradação dos costumes, dos ataques à "sacrossanta" família, da "liberalidade" de alguns professores. Inimigos  da Pátria todos eles, que não colocavam Deus acima de tudo. 
Tal como no presente repete-se aos olhos de todos o discurso de ódio, pregando a morte do diferente e potencializando-se pela explosão dos meios informatizados de comunicação. Os argumentos continuam os mesmos.
A primeira eleição presidencial organizada pelos "salvadores" de então fantasiou-se de democracia para que um "colégio eleitoral", "eleito" pelo povo, indicasse o novo Presidente da República - um homem das fileiras do Exército, já escolhido previamente pela cúpula militar que estava no comando,  de acordo com os interesses do capital internacional e com a subserviência da colonialista, patriarcal e escravocrata sociedade brasileira. Mas, principalmente, formada por "cidadãos de bem".
Tal como em 2018 onde a primeira eleição presidencial após "O 16" teve ainda mais ares democráticos. Afinal, a fantasia vestida chamou-se "as instituições estão funcionando". Mal, funcionando mal, como todos sabiam mas não diziam. E os "cidadãos de bem", saudosos de um tempo de trevas, outra vez entregaram a "mãe gentil tão distraída" à sanha do deus-mercado. Elegeram um sujeito/morte com um imenso potencial para destruir, porque era o que tinham E não vacilaram. Alguns já se arrependeram. Outros, só fingem que não sabiam. 
Acontece que depois de 64, veio 65, 66 e 67. Alguns olhos foram se abrindo e vendo o arbítrio. A resistência cresceu. Então, precisou 68, o ano que só terminaria muitos anos depois. Essa história todos sabem.
Será 2020 o 68 que nos cabe no momento? 
Para onde um ano assim,tão marcado historicamente, levará os brasileiros, a humanidade e o próprio planeta, ainda não sabemos. O que não podemos esquecer é que, nele, além do verme, temos o vírus. E, como disse Gramsci, só a luta pode ser prevista.
Quem sabe, o primeiro passo  para seguir adiante seja um olhar reverso sobre as estradas que nos trouxeram a 2020, tentando compreender porque chegamos a ele. Para, quem sabe, fazer diferente no adiante, abrindo outros caminhos.


                                                                                             MARIA





  



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